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O marxismo de 68

Traduzida por Reginaldo Gomes na revista LavraPalavra do 17 de junho 2022. Intervenção apresentada com o título “El 68 fue también marxista” como réplica à conferência “El 68 no fue marxista” de Patrick Llored, professor da Universidade de Lyon, em 31 de outubro de 2018, no Coloquio Internacional Movimientos Sociales: a 200 años de Marx y a 50 de los 68’s, realizado na Faculdade de Filosofia da Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo.

68 não foi só marxista

68 não foi só marxista. Foi também anarquista e feminista. Foi, às vezes, bastante apolítico, hippie, psicodélico e roqueiro. Foi, simplesmente, pacifista em seus protestos contra a Guerra do Vietnã ou antirracista no Movimento pelos Direitos Civis nos Estados Unidos. Foi, além disso, um espaço de gestação dos futuros movimentos ambientalistas e homossexuais, bem como um antecedente direto do partido pós-moderno e de sua alegre atitude pós-marxista ou antimarxista. O antimarxismo, de fato, já podia ser vislumbrado em algumas trincheiras de 1968.

Diversos grupos e movimentos de 68 se distanciaram do marxismo e, muitas vezes, o criticaram e a ele se opuseram. Algumas das referências e figuras emblemáticas do espírito sessentista não eram marxistas. É o caso, por exemplo, dos anarquistas Noam Chomsky nos Estados Unidos e Daniel Cohn-Bendit na França.

É claro, então, que 68 não foi só marxista, mas que foi muito mais coisas, algumas delas totalmente diferentes do marxismo e às vezes até diametralmente opostas a ele. Isso é incontestável.

68 foi também marxista

Agora, ainda que 68 não tenha sido só marxista, isso não significa, é claro, que ele não foi marxista. 68 foi também marxista. O marxismo foi um elemento definidor do espírito sessenta-e-oitista. Foi tão definidor que muitas testemunhas externas e inimigos do movimento de 68, tal como alguns de seus participantes, acabaram assimilando-o ao marxismo. Tal assimilação resulta certamente simplificadora, mas também reveladora, pois nos permite ver a importância que teve o elemento marxista no espírito sessenta-e-oitista.

O marxismo de 68 se pôs de manifesto no peso que adquiriu figuras como Marx e Engels junto com os marxistas favoritos do movimento: Rosa Luxemburgo e Trotsky, Che Guevara e Fidel Castro, Mao Tsé-Tung e Ho Chi Minh. Esses nomes nunca deixaram de ressoar em 1968. Seus respectivos rostos aparecem em todos os lados, em faixas e cartazes, em panfletos ou jornais de organizações. Suas palavras são constantemente citadas, interpretadas e discutidas.

Um grande número de sessenta-e-oitista de todo o mundo se auto-identificam, se reconhecem ou se distinguem uns dos outros ao se apresentarem como diferentes tipos de marxistas. Muitos ainda permanecem fiéis à União Soviético e são marxistas-leninistas de corte dogmático e tradicional, mas há cada vez mais quem se diferencie deles e os ultrapassem à extrema esquerda. Em primeiro lugar, há os marxistas libertários anti-leninistas e espartaquistas-luxemburguianos. Ao mesmo tempo, a revolução cultural chinesa, que eclodiu em 1966, dá origem a uma onda de maoístas em todo o mundo. Há também uma estranha proliferação de trotskistas, bem como há cada vez mais gramscianos e guevaristas. Essas diversas correntes políticas do marxismo dão lugar a organizações ultraesquerdistas que se aliam ou rivalizam entre si e que são protagonistas de muitos dos movimentos e acontecimentos de 1968.

O Maio Francês, por exemplo, será protagonizado principalmente por sete organizações marxistas de extrema esquerda, todas elas rivais do tradicional Partido Comunista Francês. Na trincheira trotskistas estão a Voz Operária e depois a Luta Operária, a Federação de Estudantes Revolucionários, a Organização Comunista Internacionalista e principalmente a Juventude Comunista Revolucionária, precedente da famosa Liga Comunista Revolucionária. A frente maoísta dispõe das Juventudes Comunistas Marxistas Leninistas e seu derivado, a Esquerda Proletária, vinculada a Louis Althusser. Enquanto o campo marxista libertário e antiautoritário, vinculado com os anarquistas e situacionistas, conta com o fabuloso Movimento 22 de Março.

As organizações tem, às vezes, líderes que são tão marxistas quanto elas e que haverão de se converter em ícones do espírito de 68. Pensemos agora, como ilustração, no mais conhecido sessenta-e-oitista alemão, Rudi Dutschke, marxista gramsciano, mas também luxemburguiano e altamente influenciado por filósofos marxistas ocidentais como Ernst Bloch e Marcuse, mas também paradoxalmente por Mao Tsé-Tung. É sob inspiração maoísta, com efeito, que Dutschke forja sua famosa noção de “longa marcha pelas instituições” com a qual se refere a uma estratégia de infiltração e subversão dos espaços institucionais desde o seu interior para restabelecer as condições da revolução.

O marxismo sessenta-e-oitista também se evidenciou, então, nos carismáticos dirigentes marxistas, figuras icônicas de 68, bem como na proliferação de grupos de corte marxista e na forma em que tais grupos englobaram uma fração importante do movimento estudantil. Mesmo fora dos espaços de militância comunista e socialista, houve uma enorme difusão de Marx e do marxismo entre os jovens mobilizados em todo o mundo. Tanto na França como na Alemanha, Itália, Japão e México, observamos a generalizada representação da realidade em termos de luta de classes ou de base e superestrutura e o emprego massivo dos nomes “capitalista” e “burguês” com propósitos insultantes ou desqualificadores. Tudo isso nos permite apreciar um ambiente altamente impregnado pelo marxismo. A impregnação é particularmente manifesta nos âmbitos universitários e acadêmicos.

O elemento marxista do espírito sessenta-e-oitista é também o de suas referências intelectuais. Temos aqui um marxismo renovado, radicalizado e tão ramificado como o das tendências políticas da época. Mencionemos ao menos o marxismo estruturalista de Louis Althusser, o existencialista de Jean-Paul Sartre, o hegeliano de Georg Lukács, o frankfurtiano de Max Horkeimer, Theodor Adorno e especialmente Herbert Marcuse, o historiográfico britânico de E. P. Thompson e Eric J. Hobsbawm, o humanista de Ernst Bloch, Erich Fromm, Karel Kosik, Lucien Goldmann e Roger Garaudy, o da teoria da dependência de Celso Furtado, Theotônio dos Santos, André Gunder Frank e Ruy Mauro Marini, os marxismos inclassificáveis de José Revueltas no México e Takaaki Yoshimoto no Japão. Os pensadores mais influentes de 68 foram em sua maioria marxistas, talvez heterodoxamente marxistas, mas marxistas, indiscutivelmente marxistas.

O discutível marxismo de 68

É verdade que também existiu em 1968 pensadores influentes cujo marxismo é discutível. Pensemos, por exemplo, no grupo marxista anti-dogmático Socialismo ou Barbárie, particularmente em seus líderes e fundadores, Cornelius Castoriadis e Claude Lefort. Sabemos que ambos, depois de terem se oposto unicamente ao marxismo-leninismo stalinista e soviético, tenderam a se distanciar de qualquer perspectiva marxista no decorrer dos anos sessenta. No entanto, na mesma época, esse distanciamento do marxismo provoca a cisão da facção de Pierre Souyri e Jean François Lyotard, que permanecem fiéis ao marxismo e terão um papel importante no movimento de 68 na França, especialmente através da revista Pouvoir Ouvrier.

De qualquer modo, mesmo no caso de Lefort e Castoriadis, o ponto de partida e o impulso vital de seu pensamento, assim como seu fundamento e quadro de referência, não deixam de ser profundamente marxistas. O mesmo ocorre, ainda que de modo ainda mais notório, com Guy Debord, cabeça de uma Internacional Situacionista que jogará um papel decisivo no Maio Francês. Ninguém irá colocar em questão que Debord funda suas ideias fabulosas em ideias muito precisas do próprio Marx, no projeto original de Socialismo ou Barbárie, na crítica da vida cotidiana do marxista humanista Henri Lefbvre, no freudomarxismo surrealista, e na perspectiva marxista ocidental de Georg Lukács e Karl Korsch. Todos esses materiais, ainda que provenientes do marxismo, já são em si relativamente incompatíveis com o marxismo-leninismo, mas são também articulados de uma forma tão original e com um estilo tão inovador e provocador que resultam desconcertantes e completamente irreconhecíveis para marxistas rígidos, convencionais e sensatos, para não dizer estúpidos e enfadonhos, como os que predominam nas estruturas e na direção do Partido Comunista Francês (PCF) e de seu tentáculo sindical, o da Confederação Geral do Trabalho (CGT).

Os velhos comunistas franceses viam os situacionistas sessenta-e-oitistas com desprezo e desconfiança. Não os levaram a sério. Não souberam aprender tudo o que lhes poderia ter sido ensinado. Não puderem encontrar neles mais do que a ideologia burguesa e o esquerdismo anarquista. Não foram capazes de vislumbrar seu marxismo tão autêntico e tão consequente, ainda que ali estivesse, não só presente, mas demasiado presente, transbordante, ampliado e aprofundado, ainda que certamente marcado por sua orientação libertária e imbricado com elementos anarquistas e com as ideias neo-marxistas ou para-marxistas de outros grandes expoentes do situacionismo, entre eles o famoso Raoul Vaneigem.

Marxismo e anarquismo

68 conseguiu libertar o marxismo de muito do que impedia sua reconciliação com o anarquismo. Isso foi possibilitado pela força que adquiriram os marxismos libertários, anti-dogmáticos e antiautoritários, como o espartaquistas-luxemburguiano, o conselhista, o do Socialismo ou Barbárie ou o situacionista. No entanto, no próprio fundamento mesmo da opção por esses marxismos e da reconciliação com o anarquismo, o decisivo foi o próprio espírito de 68, seu caráter insubmisso e subversivo que o fez desafiar qualquer poder opressivo e desembaraçar-se de tudo aquilo que o contrapõe ao anarquismo, como o burocratismo, o autoritarismo, o verticalismo, o vanguardismo e o despotismo que reinam tanto nos Partidos Comunistas como na União Soviética e em outros países socialistas.

De qualquer forma, o eterno conflito e mal-entendido entre marxistas e anarquistas, que vem desgastando-os desde o triste fim da Primeira Internacional e que assegura a fatídica divisão do movimento mundial anticapitalista, parece chegar a superar-se entre alguns sessenta-e-oitistas. Isso provoca a incompreensão dos velhos patriarcas do comunismo e do anarquismo. Isso pode ser visto muito claramente no Congresso Anarquista Internacional de Carrara, que acontece entre 31 de agosto e 5 de setembro de 1968 e no qual se cria a Internacional de Federações Anarquistas (IFA). Vemos se opor então a tradicional posição anti-marxista, representada principalmente pelo velho Maurice Joyeux, e a emergente postura pró-marxista, personificada pelo jovem sessenta-e-oitista Daniel Cohn-Bendit. A oposição entre essas duas posturas nos diz muito da relação entre o marxismo e o anarquismo em 1968 e merece que nos detenhamos nela por um momento.

O velho Joyeux se opõe violentamente a qualquer aliança com a “podridão marxista” e acusa os expoentes do marxismo libertário sessenta-e-oitista de “rondar o movimento libertário como putas ao redor dos bares”. Em resposta, depois de cantar várias vezes com seus companheiros “viva as putas! viva as putas! viva as putas!”, Cohn-Bendit expressa eloquentemente o espírito sessenta-e-oitista quando afirma: “temos que abandonar o falso dilema entre anarquistas e marxistas e colocar o dilema: revolucionários ou não”, e continua com firmeza: “o movimento revolucionário tem de basear-se na autogestão, nos conselhos operários, na rejeição da direção, seja ela exercida por um partido comunista ou por uma federação anarquista”.

Depois de terminar seu maravilhoso discurso, Cohn-Bendit abandona a sala com seu grupo de jovens, que agora cantam: “Vous êtes des anciens combattants!”, “Vocês são os velhos combatentes!”. Os velhos combatentes permanecem na sala e a tarefa de responder recai sobre outro anarquista de idade, nem mais nem menos que a veterana e ex-ministra da República Espanhola Federica Montseny, que, em tom condescendente e quase materno, disse a respeito do discurso de Cohn-Bendit: “eu pensava o mesmo que ele quando eu tinha vinte ou trinta anos”.

O cerne da questão é, pois, a lacuna geracional. Talvez Montseny tenha razão. Há algo em sua geração que normalmente a impede de compreender esses jovens de 68 que tentam mergulhar em suas convicções marxistas e anarquistas para superar suas diferenças e para cumprir assim com seus propósitos. Esse é também o espírito sessenta-e-oitista, o espírito que muitos de nós perdemos e cuja perda nos mantém derrotados ao manter o conflito estéril e interminável entre aqueles que ocupam sucessivamente as posições dos velhos marxistas e dos velhos anarquistas, sejam eles comunistas e libertários, populistas e trotskistas ou mesmo morenistas e zapatistas. Uns e outros não deixam de tropeçar entre si, boicotando-se constantemente uns aos outros, enquanto o capitalismo vai ganhando terreno e anulando todas as conquistas passadas.

Muito do que sofremos hoje em dia provém da incompreensão do espírito de 68. O espírito, incompreendido, acabou derrotado pela mesma incompreensão. O velho triunfou sobre o novo. O movimento revolucionário foi neutralizado pelo refluxo reacionário. Esse refluxo revestiu muitas formas diferentes, mas todas elas mostram uma total incompreensão em face dos diferentes aspectos do espírito de 68, entre eles seu elemento marxista.

Marxismo e marxismo

A incapacidade de compreender não só afeta severamente os velhos anarquistas da época, mas também os velhos marxistas. Já mencionamos os dinossauros do Partido Comunista Francês que não foram capazes nem sequer de vislumbrar, pelo menos no princípio, toda a radicalidade marxista dos jovens sessenta-e-oitistas, tanto os situacionistas como os ultraesquerdistas, os trotskistas, os maoístas e os anti-autoritários luxemburguianos. Exatamente o mesmo ocorre nos Estados Unidos, no México e na Tchecoslováquia. Detenhamo-nos por um momento em cada caso.

No contexto estadunidense, os velhos comunistas vão rotular ironicamente de “groucho marxistas” os yippies do Partido Internacional da Juventude. E sim, claro, é verdade que o marxismo dos yippies é discutível, para dizer o mínimo. Jerry Rubin, de fato, está mais próximo do anarquismo. No entanto, quando o escutamos, muitas vezes sentimos que seu discurso está muito mais próximo do marxismo, e seus heróis, não por acaso, são Fidel Castro, Mao Tsé-Tung e Ho Chi Min.

De sua parte, o outro yippie mais famoso, Abbie Hoffman, se descreve como um anarco-comunista, mas todo o seu pensamento está sob a influência indireta de Marx e direta de Marcuse, e, segundo o que ele mesmo disse, ele quer combinar os estilos de Andy Warhol com Fidel Castro, o que não é nada mau. Há aqui novamente um impulso para transgredir, subverter e unir o aparentemente incompatível: um impulso que pode chegar a ser libertador para o marxismo. Se isso não sucedeu, foi pela dissolução e recuperação do espírito de 68, embora também, insistamos, pela incompreensão da própria esquerda.

Mais ao sul, no contexto mexicano, há também múltiplos exemplos da mesma incompreensão, mas eu gostaria de me limitar a um que Roger Bartra nos relata e que me parece particularmente significativo. O protagonista foi o velho marxista Vicente Lombardo Toledano, que sempre esteve na órbita do governo pós-revolucionário, seja como político da ala esquerda do Partido Revolucionário Institucional (PRI) ou como primeiro secretário geral da central sindical governista da Confederação de Trabalhadores do México (CTM) ou como dirigente do paraestatal Partido Popular Socialista (PPS). Em primeiro de outubro de 1968, exatamente um dia antes do massacre de Tlatelolco, Lombardo Toledano quis repreender com severidade os jovens marxistas sessenta-e-oitistas e os acusou de se apresentarem como “reformadores do marxismo para caluniá-lo” e de abrir caminho para uma nova esquerda “por um caminho que não é o do marxismo-leninismo”. Talvez não fosse, de fato, a via leninista clássica, mas algo que Lênin teria julgado um infantilismo de esquerda precisamente por insistir no atalho e evitar qualquer tipo de desvio.

O certo é que o caminho dos sessenta-e-oitistas não era a senda tortuosa que seguiu Lombardo Toledano até o topo do poder. Mas isso não quer dizer que não tenha sido o caminho do marxismo, embora um caminho talvez efetivamente demasiado reto, demasiado consequente, demasiado juvenil e até infantil para ser compreendido pelo venerável ancião Lombardo Toledano, o qual, aliás, faleceu no mês de novembro de 1968, umas poucas semanas depois de repreender os jovens massacrados em Tlatelolco, os quais ele não foi capaz de compreender. Temos aqui, uma vez mais, a incompreensão de um velho diante do espírito de 68 e seu elemento marxista.

A velhice que atribuo ao velho Lombardo Toledano, assim como ao velho Maurice Joyeux ou aos velhos comunistas franceses e estadunidenses, não é evidentemente uma velhice biológica, mas histórica, simbólica, ideológica. É a velhice que nunca foi sofrida nem por Salvador Allende, o velho jovem, como ele mesmo se caracterizava, nem por outro dois marxistas que souberam compreender muito bem o marxismo sessenta-e-oitista mexicano. Me refiro, claro, a Elí de Gortari e especialmente a José Revueltas, os quais, embora bem carregados com respectivamente 50 e 54 anos nas costas, deram provas de uma juventude que os fez vibrar com o espírito de 68 até pagarem as consequências e terminaram encarcerados em Lecumberri.

Há alguém mais a quem desejo me referir, agora um tchecolosvaco, alguém que tampouco era precisamente jovem de idade biológica, mas que foi historicamente jovem ao compreender muito bem o marxismo sessenta-e-oitista. Estou pensando em Alexander Dubček, o principal artífice do 68 da Checoslováquia, da Primavera de Praga e do Socialismo com rosto humano. Os velhos marxistas tchecoslovacos e soviéticos acusaram Dubček e seus companheiros de não serem autênticos marxistas e de trair o marxismo. O certo é que não puderem evidenciar nem maior autenticidade em suas convicções marxistas nem maior insistência em sua fidelidade ao marxismo, como mostra claramente o Programa de ação de abril de 1968, no qual se resumem os princípios de sua proposta de Socialismo com rosto humano.

O que lemos no mencionado Programa de ação? Lemos que “se estimulará o desenvolvimento do pensamento marxista”, que “o conceito marxista-leninista de desenvolvimento do socialismo” deve ser “princípio reitor”, que “a gestão política” desse conceito é a condição para “o correto desenvolvimento de nossa sociedade socialista” e que a “ciência marxista” dará a força que “permite preparar condições científicas responsáveis para tal programa”. Se insiste assim uma e outra vez na profissão de fé marxista. Nada mau até aqui. O problema é que também lemos no mesmo programa que as “próprias experiências e o mesmo conhecimento científico marxista” os levaram a conclusão de que seu objetivo de plenitude pessoal e vital “não pode ser alcançado por velhos caminhos, ao usar meios que se tornaram métodos obsoletos e rígidos, que sempre nos estão arrastando”, e é por isso que decidem “abrir caminho através de condições desconhecidas, experimentar, dar um novo aspecto ao desenvolvimento socialista”, até “aprofundar o socialismo”, e sempre “apoiando-se em um pensamento marxista criativo”.

A criatividade é todo o problema do marxismo dos sessenta-e-oitista da Tchecoslováquia. Dubček e seus companheiros continuam sendo marxistas, autenticamente marxistas, insistentemente marxistas, apaixonadamente marxistas, mas o são de um modo criativo, inovador, novo, como seus companheiros do México, França e Estados Unidos, o que os torna incompreendidos e finalmente invadidos pela União Soviética e pelas demais nações do Pacto de Varsóvia. Desta vez, a incompreensão do marxismo de 68 se traduz em tanques e estilhaços. Melhor atirar em um lugar do que tentar compreendê-lo, o que provoca a indignação de partidos comunistas como o italiano, o francês e o finlandês, e assim termina preparando o terreno para o surgimento do eurocomunismo não alinhado com a União Soviética.

Entre a incompreensão e o reconhecimento do marxismo de 68

Não foi apenas a União Soviética que pagou muito caro pela incompreensão do marxismo sessenta-e-oitista. Essa incompreensão, na realidade, foi custosa e prejudicial para todos os que se nutrem da herança de Marx e de seus seguidores. Todos nós ficamos paralisados e presos em 68 e em suas consequências.

O imenso legado marxista chegou em 1968 a uma encruzilhada histórica decisiva da qual dependia seu destino: ou se desviava para voltar atrás e para seguir dando voltas, esgotando-se e ficando cada vez mais para trás, ou então seguia sempre adiante, o que exigia que ele se renovasse, se reinventasse, se radicalizasse, ou, nos termos dos companheiros tchecoslovacos, experimentasse, se aprofundasse e abrisse caminho através de condições desconhecidas. Esse caminho a seguir, o mesmo elegido por marxistas sessenta-e-oitistas do México e de todo o mundo, foi obstruído em Praga pelos tanques soviéticos, bem como foi também impedido em outros países pelo peso das velhas estruturas de partidos e dogmas comunistas, bem expressos pelas reconvenções que Lombardo Toledano dirigiu aos jovens mexicanos.

Os obstáculos existem no interior de cada organização e de cada membro. O movimento de 68, enquanto dura, se debate constantemente entre os dois caminhos ou entre o caminho e o obstáculo, entre o jovem e o velho, entre os marxismos renovados e os esclerosados. Isso fica muito claro no caso do Japão, onde vemos os jovens oscilando entre as velhas seitas marxistas Zengakuren, dogmáticas e ritualistas, e os novos Conselhos universitários de luta conjunta, os Zenkyoto, espaços únicos de liberdade e criatividade. Como em outros contextos, a experiência dos Zenkyoto é incompreendida e acaba sendo obstruída e finalmente frustrada pelas inércias dos Zengakuren.

O obstáculo da incompreensão dos próprios marxistas veio a se somar a todos os demais obstáculos do mundo capitalista. Contribuiu assim para a retirada desse espírito de 68 que poderia ter permitido ao marxismo dar um salto e seguir adiante. Certamente uma parte dele continuou se movendo através da noite neoliberal, pós-moderna e agora hipermoderna, mas ele sempre se moveu titubeando, cambaleando, aos tropeços, caindo e mancando, sem poder ainda se recuperar de suas múltiplas quedas. Ele mesmo não deixa de voltar atrás e se mantém no passado e segue tropeçando em si mesmo.

O avanço do marxismo exige reconhecer o marxismo sessenta-e-oitista. Este marxismo é ainda irreconhecível como tal, como um tipo de marxismo, para muitos marxistas. Eles não o compreendem. Ainda é demasiado novo, demasiado revolucionário, demasiado marxista, para os gostos marxistas majoritários de nossa época. Não conseguimos alcançá-lo. Ainda estamos atrás, muito atrás do socialismo com rosto humano da Tchecoslováquia, daquele pelo qual morreram os mártires de Tlatelolco, dos ideais de liberdade professados pelos yippies e pelos trotskistas, maoístas, espartaquistas e situacionistas de 68. Esses jovens marxistas eram demasiado jovens e nós já somos demasiado velhos.

Só estaremos em condições rejuvenescer, só poderemos renovar e reatualizar o que significa ser marxista para nós, depois que tivermos reconhecido o marxismo de 68, depois que tenhamos tomado consciência de tudo aquilo em que esse marxismo nos superou, ou seja, tudo aquilo em que estamos atrasados. O sinal deste atraso será precisamente seu desconhecimento. Não o conheceremos quando nem sequer vemos aquilo a respeito do qual nós estamos atrasados, quando não percebemos o marxismo em 68, quando não tomamos consciência de tudo aquilo que pode chegar a ser o marxismo sem deixar de ser o que é.

O certo é que o marxismo segue sendo o marxismo que é ao ser o de 68, ao desafiar o marxismo-leninismo soviético, ao ser maoísta e libertário, ao ser feminista e yippie, ao se reconciliar com o anarquismo, ao se converter em situacionismo e ao aprofundar-se tanto como o aprofundaram os sessenta-e-oitista. O espírito de 68 nos mostra muito do que pode vir a ser o marxismo e que hoje em dia ninguém ou quase ninguém reconhece como algo marxista, talvez porque os velhos acabaram vencendo, porque o movimento reacionário veio depois do movimento revolucionário e definiu o que deveria ser cada coisa, incluindo o próprio marxismo. Ficamos então unicamente com o superado e transcendido pelo espírito sessenta-e-oitista. Perdemos assim o marxismo de 68 para conservar apenas aquele marxista que o precedeu e contra o qual se rebelou.

Agora se tornou comum acreditar que o marxismo é tão somente isso que envelheceu e morreu na União Soviética. Esquecemos que foi também aquilo que pôde rejuvenescer no 68 e que assim conseguiu se sobrepor a sua velhice e a sua morte. A juventude e a vida do próprio marxismo é o que geralmente cai no esquecimento.

O que deixamos de recordar, em outras palavras, é a capacidade que tem o marxismo de se transformar para seguir constituindo a principal ameaça prático-teórica para o sistema capitalista e para os seus dispositivos ideológicos, disciplinares e repressivos. Isso é o que não se deve saber. É também pelo perigo de saber que não se nos permite reconhecer o marxismo de 68. Reconhecê-lo seria ver muito do que pode ser o marxismo além do que envelheceu e morreu na União Soviética. Melhor não vê-lo e imaginar que o superamos, que o deixamos para trás, que podemos nos resignar a pensamentos melhores adaptados ao capitalismo.

El marxismo del 68

Intervención presentada bajo el título “El 68 fue también marxista” como réplica para la conferencia “El 68 no fue marxista” de Patrick Llored, profesor de la Universidad de Lyon, el miércoles 31 de octubre de 2018, en el marco del Coloquio Internacional Movimientos Sociales: a 200 años de Marx y a 50 de los 68’s, realizado en la Facultad de Filosofía de la Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo.

David Pavón-Cuéllar

El 68 no fue sólo marxista

El 68 no fue sólo marxista. Fue también anarquista y feminista. Fue a veces más bien apolítico, hippie, psicodélico y roquero. Fue simplemente pacifista en sus protestas contra la Guerra de Vietnam o antirracista en el Movimiento por los Derechos Civiles en los Estados Unidos. Fue además espacio de gestación de los futuros movimientos ecologista y homosexual, así como también antecedente directo de la fiesta posmoderna y de su alegre actitud postmarxista o antimarxista. El antimarxismo, de hecho, ya se atisba en algunas trincheras de 1968.

Diversos grupos y movimientos del 68 se deslindaron del marxismo y a menudo lo criticaron y se opusieron a él. Algunas de las referencias y figuras emblemáticas del espíritu sesentayochero no eran marxistas. Es el caso, por ejemplo, de los anarquistas Noam Chomsky en Estados Unidos y Daniel Cohn-Bendit en Francia.

Es claro, pues, que el 68 no fue sólo marxista, sino que fue muchas cosas más, algunas de ellas totalmente diferentes del marxismo y a veces incluso diametralmente opuestas a él. Esto es incontestable.

El 68 fue también marxista

Ahora bien, aunque el 68 no fuera sólo marxista, esto no quiere decir, desde luego, que no fuera marxista. El 68 fue también marxista. El marxismo fue un elemento definitorio del espíritu sesentayochero. Fue tan definitorio que muchos testigos externos y enemigos del movimiento del 68, al igual que algunos de sus participantes, acabaron asimilándolo al marxismo. Tal asimilación resulta ciertamente simplificadora, pero también reveladora, pues nos deja ver la importancia que tuvo el elemento marxista en el espíritu sesentayochero.

El marxismo del 68 se puso de manifiesto en el peso que adquieren figuras como las de los propios Marx y Engels junto con los marxistas favoritos del movimiento: Rosa Luxemburgo y Trotsky, el Che Guevara y Fidel Castro, Mao Tse-Tung y Ho Chi Minh. Estos nombres no dejan de resonar en 1968. Sus rostros respectivos aparecen en todos lados, en mantas y pancartas, en panfletos o periódicos de organizaciones. Sus palabras no dejan de citarse, interpretarse y discutirse.

Un enorme número de sesentayocheros de todo el mundo se identifican a sí mismos y se reconocen o se distinguen unos de otros al presentarse como diferentes clases de marxistas. Muchos aún permanecen fieles a la Unión Soviética y son marxistas-leninistas de corte dogmático y tradicional, pero hay cada vez más que se distinguen de ellos y que los rebasan por la extrema izquierda. Están primeramente los marxistas libertarios anti-leninistas y espartaquistas-luxemburguianos. Al mismo tiempo, la revolución cultural china, que estalló en 1966, hace que se levante una ola de maoístas en todo el mundo. Hay también una extraña proliferación de trotskistas, así como cada vez más gramscianos y guevaristas. Estas diversas corrientes políticas del marxismo dan lugar a organizaciones ultraizquierdistas que se alían o rivalizan y que son protagonistas de muchos de los movimientos y acontecimientos de 1968.

El Mayo Francés, por ejemplo, será protagonizado principalmente por siete organizaciones marxistas de extrema izquierda, todas ellas rivales del más tradicional Partido Comunista Francés. En la trinchera trotskista están Voz Obrera y luego Lucha Obrera, la Federación de Estudiantes Revolucionarios, la Organización Comunista Internacionalista y principalmente la Juventud Comunista Revolucionaria, precedente de la famosa Liga Comunista Revolucionaria. El frente maoísta dispone de las Juventudes Comunistas Marxistas Leninistas y de su derivado, Izquierda Proletaria, vinculada con Louis Althusser. En cuanto al campo marxista libertario y antiautoritario, vinculado con los anarquistas y los situacionistas, cuenta con el fabuloso Movimiento del 22 de Marzo.

Las organizaciones tienen a veces líderes que son tan marxistas como ellas y que habrán de convertirse en íconos del espíritu del 68. Pensemos ahora, como ilustración, en el más conocido sesentayochero alemán, Rudi Dutschke, marxista gramsciano, pero también luxemburguiano y altamente influido por filósofos marxistas occidentales como Ernst Bloch y Marcuse, aunque también paradójicamente por Mao Tse-Tung. Es bajo inspiración maoísta, en efecto, que Dutschke forja su famosa noción de “larga marcha a través de las instituciones” con la que se refiere a una estrategia de infiltración y subversión de los espacios institucionales desde su interior para establecer las condiciones de la revolución.

El marxismo sesentayochero también se evidenció, pues, en los dirigentes marxistas carismáticos, figuras icónicas del 68, así como en la proliferación de grupos de corte marxista y en la forma en que tales grupos englobaron una fracción importante del movimiento estudiantil. Incluso al exterior de los espacios de militancia comunista y socialista, hubo una enorme difusión de Marx y del marxismo entre los jóvenes movilizados en todo el mundo. Lo mismo en Francia que en Alemania, Italia, Japón y México, observamos la generalizada representación de la realidad en términos de lucha de clases o de base y superestructura y el empleo masivo de los apelativos “capitalista” y “burgués” con propósitos insultantes o descalificadores. Todo esto nos permite apreciar un ambiente altamente impregnado por el marxismo. La impregnación es particularmente manifiesta en los ámbitos universitarios y académicos.

El elemento marxista del espíritu sesentayochero es también el de sus referentes intelectuales. Tenemos aquí un marxismo renovado, radicalizado y tan ramificado como el de las tendencias políticas de la época. Mencionemos al menos el marxismo estructuralista de Louis Althusser, el existencialista de Jean-Paul Sartre, el hegeliano de Georg Lukács, el frankfurtiano de Max Horkheimer, Theodor Adorno y especialmente Herbert Marcuse, el historiográfico británico de E. P. Thompson y Eric J. Hobsbawm, el humanista de Ernst Bloch, Erich Fromm, Karel Kosík, Lucien Goldmann y Roger Garaudy, el de la teoría de la dependencia de Celso Furtado, Theotonio Dos Santos, Andre Gunder Frank y Ruy Mauro Marini, los marxismos inclasificables de José Revueltas en México y Takaaki Yoshimoto en Japón. Los pensadores más influyentes del 68 fueron en su mayoría marxistas, quizás heterodoxamente marxistas, pero marxistas, indiscutiblemente marxistas.

El discutible marxismo del 68

Es verdad que también hubo en 1968 influyentes pensadores cuyo marxismo resulta discutible. Pensemos, por ejemplo, en el grupo marxista anti-dogmático Socialismo o Barbarie, particularmente en sus líderes y fundadores, Cornelius Castoriadis y Claude Lefort. Sabemos que ambos, después de haberse opuesto únicamente al marxismo-leninismo estalinista y soviético, tienden a distanciarse de cualquier perspectiva marxista en el curso de los años sesenta. Sin embargo, en la misma época, este distanciamiento del marxismo provoca la escisión de la facción de Pierre Souyri y Jean-François Lyotard, quienes permanecen fieles al marxismo y tendrán un papel importante en el movimiento del 68 en Francia, especialmente a través de la revista Pouvoir Ouvrier.

De cualquier modo, aun en el caso de Lefort y Castoriadis, el punto de partida y el impulso vital de su pensamiento, así como su fundamento y su marco de referencia, no dejan de ser profundamente marxistas. Es lo mismo que ocurre, aunque de modo aún más notorio, con Guy Debord, cabeza de una Internacional Situacionista que jugará un papel decisivo en el Mayo Francés. Nadie pondrá en duda que Debord funda sus ideas fabulosas en ideas muy precisas del propio Marx, en el proyecto original de Socialismo o Barbarie, en la crítica de la vida cotidiana del marxista humanista Henri Lefebvre, en el freudomarxismo surrealista y en la perspectiva marxista occidental de Georg Lukács y Karl Korsch. Todos estos materiales, aunque provenientes del marxismo, ya son de por sí relativamente incompatibles con el marxismo-leninismo, pero se articulan además de un modo tan original y con un estilo tan innovador y provocador que resultan desconcertantes y completamente irreconocibles para marxistas rígidos, convencionales y sensatos, por no decir tontos y aburridos, como los que predominan en las estructuras y dirigencias del Partido Comunista Francés (PCF) y de su tentáculo sindical, el de la Confederación General del Trabajo (CGT).

Los viejos comunistas franceses vieron a los situacionistas sesentayocheros con desprecio y desconfianza. No los tomaron en serio. No supieron aprender todo lo que habrían podido enseñarles. No pudieron encontrar en ellos más que ideología burguesa e izquierdismo anarquista. No fueron capaces de vislumbrar su marxismo tan auténtico y tan consecuente, aun cuando ahí estaba, no sólo presente, sino demasiado presente, desbordante, ampliado y profundizado, aunque ciertamente marcado por su orientación libertaria e imbricado con elementos anarquistas y con las ideas no-marxistas o para-marxistas de otros grandes exponentes del situacionismo, entre ellos el famoso Raoul Vaneigem.

Marxismo y anarquismo

El 68 consiguió liberar al marxismo de mucho de lo que impedía su reconciliación con el anarquismo. Esto fue posibilitado por la fuerza que adquieren marxismos libertarios, anti-dogmáticos y antiautoritarios, como el espartaquista-luxemburguiano, el consejista, el de Socialismo o Barbarie o el situacionista. Sin embargo, en el fundamento mismo de la opción por estos marxismos y de la reconciliación con el anarquismo, lo decisivo fue el espíritu mismo del 68, su carácter insumiso y subversivo que lo hace desafiar cualquier poder opresivo y desembarazarse de todo aquello que lo contrapone al anarquismo, como el burocratismo, el autoritarismo, el verticalismo, el vanguardismo y el despotismo que reinan lo mismo en los Partidos Comunistas que en la Unión Soviética y en otros países socialistas.

En cualquier caso, el eterno conflicto y malentendido entre marxistas y anarquistas, que viene desgastándolos desde el triste final de la Primera Internacional y que asegura la fatídica división del movimiento mundial anticapitalista, parece llegar a superarse entre algunos sesentayocheros. Esto provoca la incomprensión de los viejos patriarcas del comunismo y del anarquismo. Es algo que se aprecia muy bien en el Congreso Anarquista Internacional de Carrara, que se realiza entre el 31 de agosto y el 5 de septiembre de 1968 y en el que se crea la Internacional de Federaciones Anarquistas (IFA). Vemos oponerse entonces la tradicional posición antimarxista, representada principalmente por el viejo Maurice Joyeux, y la emergente postura pro-marxista, personificada por el joven sesentayochero Daniel Cohn-Bendit. La oposición entre estas dos posturas nos dice mucho de la relación entre el marxismo y el anarquismo en 1968 y merece que nos detengamos un momento en ella.

El viejo Joyeux se opone violentamente a cualquier alianza con la “podredumbre marxista” y acusa a los exponentes del marxismo libertario sesentayochero de “merodear en torno al movimiento libertario como putas en torno a los bares”. En respuesta, después de corear varias veces con sus compañeros “vive les putains!, ¡viva las putas!, ¡viva las putas!”, Cohn-Bendit expresa elocuentemente el espíritu sesentayochero cuando afirma: “hemos de abandonar el falso dilema anarquistas o marxistas y plantear el dilema: revolucionarios o no”, y continúa con firmeza: “el movimiento revolucionario tiene que basarse en la autogestión, en los consejos obreros, en el rechazo de la dirección, tanto si la ejerce un partido comunista como si lo hace una federación anarquista”.

Después de terminar su maravilloso discurso, Cohn-Bendit abandona la sala con su grupo de jóvenes, quienes corean ahora: “Vous êtes des anciens combattants!”, “¡Son ustedes unos viejos combatientes!”. Los viejos combatientes se quedan en la sala y el encargo de responder cae en otra anarquista de edad, ni más ni menos que la veterana y exministra de la República Española Federica Montseny, la cual, en tono condescendiente y casi materno, dice con respecto al discurso de Cohn-Bendit: “yo pensaba igual que él cuando tenía veinte o treinta años”.

El meollo del asunto es, pues, la brecha generacional. Quizás Montseny tenga razón. Hay algo en su generación que suele impedirle comprender a esos jóvenes del 68 que intentan ahondar en sus convicciones marxistas y anarquistas para superar sus diferencias y para cumplir así con sus propósitos. Esto es también el espíritu sesentayochero, el espíritu que muchos hemos perdido y cuya pérdida nos mantiene derrotados al mantener el conflicto estéril e interminable entre quienes van ocupando sucesivamente las posiciones de los viejos marxistas y de los viejos anarquistas, ya sean comunistas y libertarios, populistas y trotskistas o hasta morenistas y zapatistas. Unos y otros no dejan de tropezar entre sí, boicoteándose constantemente los unos a los otros, mientras el capitalismo va ganando terreno y anulando todas las conquistas pasadas.

Mucho de lo que sufrimos hoy en día proviene de la incomprensión del espíritu del 68. El espíritu, incomprendido, terminó derrotado por la misma incomprensión. Lo viejo triunfó sobre lo nuevo. El movimiento revolucionario fue neutralizado por el reflujo reaccionario. Este reflujo revistió muchas formas diferentes, pero todas ellas muestran una total incomprensión ante los diferentes aspectos del espíritu del 68, entre ellos su elemento marxista.

Marxismo y marxismo

La incapacidad para comprender no sólo afecta severamente a los viejos anarquistas de la época, sino también a los viejos marxistas. Ya mencionamos a los dinosaurios del Partido Comunista Francés que no fueron capaces ni siquiera de vislumbrar, al menos al principio, toda la radicalidad marxista de los jóvenes sesentayocheros, tanto los situacionistas como los ultraizquierdistas, los trotskistas, los maoístas y los anti-autoritarios luxemburguianos. Exactamente lo mismo ocurre en los Estados Unidos, en México y en Checoslovaquia. Detengámonos un momento en cada caso.

En el contexto estadounidense, los viejos comunistas van a tildar burlonamente de “groucho marxistas” a los yippies del Partido Internacional de la Juventud. Y sí, claro, es verdad que el marxismo de los yippies es discutible, por decir lo menos. Jerry Rubin, de hecho, está más próximo al anarquismo. Sin embargo, cuando lo escuchamos, a menudo sentimos que su discurso está mucho más cerca del marxismo, y sus héroes, no por casualidad, son Fidel Castro, Mao Tse-Tung y Ho Chih Min.

Por su parte, el otro yippie más famoso, Abbie Hoffman, se describe como un anarco-comunista, pero todo su pensamiento está bajo la influencia indirecta de Marx y directa de Marcuse, y, según él mismo dice, quiere combinar los estilos de Andy Warhol con Fidel Castro, lo que no está nada mal. Hay aquí nuevamente un impulso a transgredir, subvertir y unir lo aparentemente incompatible: un impulso que pudo llegar a ser liberador para el marxismo. Si esto no sucedió, fue por la disolución y recuperación del espíritu del 68, aunque también, insistamos, por la incomprensión en la misma izquierda.

Más al sur, en el contexto mexicano, hay también múltiples ejemplos de la misma incomprensión, pero me gustaría ceñirme a uno que nos relata Roger Bartra y que me parece particularmente significativo. El protagonista fue el viejo marxista Vicente Lombardo Toledano, quien siempre estuvo en la órbita del gobierno posrevolucionario, ya fuera como político del ala izquierdista del Partido Revolucionario Institucional (PRI) o como primer secretario general de la central sindical oficialista Confederación de Trabajadores de México (CTM) o como dirigente del paraestatal Partido Popular Socialista (PPS). El primero de octubre de 1968, exactamente un día antes de la matanza de Tlatelolco, Lombardo Toledano quiso reprender con severidad a los jóvenes marxistas sesentayocheros y los acusó de presentarse como “reformadores del marxismo para calumniarlo” y de abrir paso a una nueva izquierda “por un camino que no es el del marxismo-leninismo”. Quizás no fuera, en efecto, la vía leninista clásica, sino algo que Lenin habría juzgado un infantilismo de izquierda precisamente por insistir en el atajo y evitar cualquier tipo de rodeo.

Lo seguro es que el camino de los sesentayocheros no era la senda tortuosa que siguió Lombardo Toledano hasta la cima del poder. Pero esto no quiere decir que no fuera el camino del marxismo, aunque un camino tal vez efectivamente demasiado recto, demasiado consecuente, demasiado juvenil y hasta infantil para ser comprendido por el venerable anciano Lombardo Toledano, el cual, por cierto, falleció en el mes de noviembre de 1968, tan sólo unas semanas después de reprender a los jóvenes a los que masacraron en Tlatelolco y a los que no supo comprender. Tenemos aquí, una vez más, la incomprensión de un viejo ante el espíritu del 68 y su elemento marxista.

La vejez que le achaco al viejo Lombardo Toledano, lo mismo que al viejo Maurice Joyeux o a los viejos comunistas franceses y estadounidenses, no es evidentemente una vejez biológica, sino histórica, simbólica, ideológica. Es la vejez que nunca fue sufrida ni por Salvador Allende, el viejo joven, como él mismo se caracterizaba, ni por otros dos marxistas que supieron comprender muy bien el marxismo sesentayochero mexicano. Me refiero, desde luego, a Elí de Gortari y especialmente José Revueltas, los cuales, aunque bien cargados respectivamente con 50 y 54 años a cuestas, dieron prueba de una juventud que les hizo vibrar con el espíritu del 68 hasta pagar las consecuencias y terminar encarcelados en Lecumberri.

Hay alguien más a quien deseo referirme, ahora un checoslovaco, alguien que tampoco era precisamente joven de edad biológica, pero que fue históricamente joven al comprender muy bien el marxismo sesentayochero. Estoy pensando en Alexander Dubček, el principal artífice del 68 de Checoslovaquia, de la Primavera de Praga y del Socialismo con rostro humano. Los viejos marxistas checoslovacos y soviéticos acusaron a Dubček y a sus compañeros de no ser auténticos marxistas y de traicionar el marxismo. Lo cierto es que no podían evidenciar ni mayor autenticidad en sus convicciones marxistas ni mayor insistencia en su fidelidad al marxismo, como lo muestra claramente el Programa de acción de abril de 1968, en el que se resumen los principios de su propuesta de Socialismo con rostro humano.

¿Qué leemos en el mencionado Programa de acción? Leemos que “se estimulará el desarrollo del pensamiento marxista”, que “el concepto marxista-leninista del desarrollo del socialismo” debe ser “principio rector”, que “la gestión política” de este concepto es condición para “el correcto desarrollo de nuestra sociedad socialista” y que la “ciencia marxista” dará la fuerza que “permita preparar condiciones científicas responsables para tal programa”. Se insiste así una y otra vez en la profesión de fe marxista. Nada malo hasta aquí. El problema es que también leemos en el mismo programa que las “propias experiencias y el mismo conocimiento científico marxista” los han llevado a la conclusión de que su objetivo de plenitud personal y vital “no puede lograrse por viejos caminos, al usar medios que han sido métodos obsoletos y duros, que siempre nos están arrastrando”, y es por eso que deciden “abrirse camino a través de condiciones desconocidas, experimentar, darle un nuevo aspecto al desarrollo socialista”, incluso “profundizar el socialismo”, y siempre “apoyándose en un pensamiento marxista creativo”.

La creatividad es todo el problema del marxismo de los sesentayocheros de Checoslovaquia. Dubček y sus compañeros continúan siendo marxistas, auténticamente marxistas, insistentemente marxistas, apasionadamente marxistas, pero lo son de un modo creativo, innovador, nuevo, como sus compañeros de México, Francia y Estados Unidos, lo que les vale ser incomprendidos y finalmente invadidos por la Unión Soviética y por las demás naciones del Pacto de Varsovia. Esta vez la incomprensión del marxismo del 68 se traduce en tanques y metrallas. Mejor disparar en lugar de intentar comprender, lo que provoca la indignación de partidos comunistas como el italiano, el francés y el finlandés, y así termina preparando el terreno para el surgimiento del eurocomunismo no alineado con la Unión Soviética.

Entre la incomprensión y el reconocimiento del marxismo del 68

No fue solamente la Unión Soviética la que pagó muy cara la incomprensión del marxismo sesentayochero. Esta incomprensión, en realidad, ha sido costosa y perjudicial para todos los que se nutren de la herencia de Marx y de sus seguidores. Todos nos hemos quedado como paralizados y atrapados en el 68 y en sus consecuencias.

El inmenso legado marxista llegó en 1968 a una encrucijada histórica decisiva de la que dependía su destino: o se desviaba para volver atrás y para seguir dando vueltas, agotándose y quedando cada vez más atrás, o bien seguía siempre adelante, lo que le exigía renovarse, reinventarse, radicalizarse, o, según los términos de los compañeros checoslovacos, experimentar, profundizarse y abrirse camino a través de condiciones desconocidas. Este camino hacia adelante, el mismo elegido por los marxistas sesentayocheros de México y de todo el mundo, fue obstruido en Praga por los tanques soviéticos, así como fue también estorbado en otros países por el peso de las vetustas estructuras de partidos y dogmas comunistas, bien expresadas por las reconvenciones que Lombardo Toledano dirigió a los jóvenes mexicanos.

Los estorbos existen al interior de cada organización y de cada miembro. El movimiento del 68, mientras dura, se debate constantemente entre los dos caminos o entre el camino y el obstáculo, entre lo joven y lo viejo, entre los marxismos renovados y los anquilosados. Esto es muy claro en el caso de Japón, en donde vemos oscilar a los jóvenes entre las viejas sectas marxistas Zengakuren, dogmáticas y ritualistas, y los nuevos Consejos universitarios de lucha conjunta, los Zenkyoto, espacios únicos de libertad y creatividad. Como en otros contextos, la experiencia de los Zenkyoto es incomprendida y termina siendo estorbada y finalmente frustrada por las inercias de los Zengakuren.

El obstáculo de la incomprensión de los propios marxistas vino a sumarse a todos los demás obstáculos del mundo capitalista. Contribuyó así al repliegue de ese espíritu del 68 que pudo haberle permitido al marxismo dar un salto y seguir adelante. Ciertamente una parte de él continuó moviéndose a través de la noche neoliberal, posmoderna y ahora hipermoderna, pero se ha movido siempre titubeando, tambaleándose, trastabillando, cayendo y cojeando, sin poder aún recobrarse de sus múltiples caídas. Él mismo no deja de volver atrás y se retiene en el pasado y sigue tropezando con él mismo.

El avance del marxismo exige reconocer el marxismo sesentayochero. Este marxismo es aún irreconocible como tal, como un tipo de marxismo, para muchos marxistas. No lo comprenden. Es todavía demasiado nuevo, demasiado revolucionario, demasiado marxista, para los gustos marxistas mayoritarios de nuestra época. No hemos conseguido alcanzarlo. Aún estamos atrás, muy atrás del socialismo con rostro humano de Checoslovaquia, de aquello por lo que murieron los mártires de Tlatelolco, de los ideales de libertad profesados por los yippies y por los trostkistas, maoístas, espartaquistas y situacionistas del 68. Estos jóvenes marxistas eran demasiado jóvenes y nosotros ya somos demasiado viejos.

Tan sólo estaremos en condiciones de rejuvenecer, tan sólo podremos renovar y reactualizar lo que significa ser marxistas para nosotros, después de que hayamos reconocido el marxismo del 68, después de que hayamos tomado conciencia de todo aquello en lo que ese marxismo nos ha superado, es decir, todo aquello en lo que nos hemos ido rezagando. El signo de este rezago será precisamente su desconocimiento. Lo desconoceremos cuando ni siquiera veamos aquello con respecto a lo cual estamos rezagados, cuando no percibamos el marxismo en el 68, cuando no hayamos tomado conciencia de todo aquello que puede llegar a ser el marxismo sin dejar de ser lo que es.

Lo cierto es que el marxismo sigue siendo el marxismo que es al ser el del 68, al desafiar el marxismo-leninismo soviético, al ser maoísta y libertario, al ser feminista y yippie, al reconciliarse con el anarquismo, al convertirse en situacionismo y al profundizarse tanto como lo profundizaron los sesentayocheros. El espíritu del 68 nos muestra mucho de lo que puede llegar a ser el marxismo y que hoy en día nadie o casi nadie reconoce como algo marxista, quizás porque terminaron ganando los viejos, porque el movimiento reaccionario vino después del movimiento revolucionario y definió lo que habría de ser cada cosa, incluido el propio marxismo. Nos quedamos entonces únicamente con lo superado y trascendido por el espíritu sesentayochero. Perdimos así el marxismo del 68 para conservar tan sólo aquello marxista que lo precedió y contra lo que se rebeló.

Ahora suele creerse que el marxismo es tan sólo eso que envejeció y murió en la Unión Soviética. Se nos olvida que fue también aquello que pudo rejuvenecer en el 68 y que así consiguió sobreponerse a su vejez y a su muerte. La juventud y la vida misma del marxismo es lo que suele caer en el olvido.

Lo que dejamos de recordar, en otras palabras, es la capacidad que tiene el marxismo de transformarse a sí mismo para seguir constituyendo la principal amenaza práctico-teórica para el sistema capitalista y para sus dispositivos ideológicos, disciplinarios y represivos. Esto es lo que no debe saberse. Es también por el peligro de saberlo que no se nos permite reconocer el marxismo del 68. Reconocerlo sería ver mucho de lo que puede ser el marxismo además de lo que envejeció y murió en la Unión Soviética. Mejor no verlo e imaginar que lo superamos, que lo dejamos atrás, que podemos resignarnos a pensamientos mejor adaptados al capitalismo.

El 68 mexicano: historia, memoria colectiva y perseverancia transgeneracional

Conferencia magistral publicada en Memoria, revista de crítica militante, y dictada por el autor en el marco del Foro Nicolaita de Pensamiento Psicosocial Contemporáneo, el martes 29 de mayo de 2018, en el Centro Cultural Universitario de la Universidad Michoacana, con el título “¡2 de octubre no se olvida! Historia, memoria colectiva y perseverancia transgeneracional del 68 mexicano”. Esta conferencia matiza, desarrolla y profundiza otra conferencia más breve, intitulada “October 2nd is not forgotten! Collective memory of 1968 among students in Mexico”, que el mismo autor dictó en inglés un mes antes, el martes 24 de abril del mismo año, en la Universidad de California en Long Beach.

David Pavón-Cuéllar

Los estudiantes del 68 y la vigencia de su ímpetu revolucionario

El agitado espíritu del 68 tuvo uno de sus vórtices en México. En este país, como en Francia o en Estados Unidos, 1968 fue un año de amplias e intensas movilizaciones caracterizadas por su relativa espontaneidad, su frescura y su desenvoltura, su aspecto novedoso y subversivo, su gran expresividad y su imaginación desbordante, su afán liberador y la participación masiva de los estudiantes. Eran jóvenes que estudiaban en preparatorias y universidades en la Ciudad de México, Morelia, Puebla, Guadalajara, Monterrey y otras ciudades. Eran generalmente muy diferentes de sus padres. Veían la sociedad y la historia de otro modo. Querían cambiar todo lo que les rodeaba. Eran vigorosos e impetuosos. Y eran muchos: miles, decenas de miles, centenares de miles que inundaron el espacio público.

La ola estudiantil mexicana se levantó hasta niveles nunca vistos hasta entonces y amenazó con trastornarlo y transformarlo todo. Las estructuras sociales y políticas se estremecieron bajo el impulso del movimiento del 68. Los estudiantes de aquellos tiempos casi revolucionaron el país en el que vivían, pero no lo hicieron, o, mejor dicho, como intentaré mostrarlo ahora, no lo han hecho todavía.

Desconocemos todo lo que aún puede ocurrir en el futuro gracias a lo que ocurrió en 1968 en México. Tan sólo conocemos lo ocurrido en ese año y sus efectos en los años que pasaron desde entonces. Y todo esto únicamente lo conocemos en parte. Es una parte, un rastro de lo sucedido, la que nos permite ahora pensar en el 68.

El 68 mexicano: único y como cualquier otro

Ya sea que hayamos estado presentes o ausentes en los acontecimientos de 1968, nuestros pensamientos acerca de aquel año se basan tan sólo en una parte de lo acontecido: en aquella de la que estamos enterados, en la que alcanzamos a recordar, en la que nos tocó vivir o en la que nos contaron o sobre la que pudimos leer o estudiar. Es siempre tan sólo una parte. Sin embargo, aun siendo sólo una parte, puede llegar a ser algo inmenso e inabarcable, un cúmulo compuesto de innumerables reminiscencias, informaciones, imágenes, palabras e impresiones. Recordemos algunas de ellas, pocas, muy pocas. Empecemos por aquellas que no son distintivas del caso de México, es decir, aquellas en las que el 68 mexicano es análogo al de otros países occidentales por una profunda consonancia generacional entre los jóvenes de aquella época.

Los estudiantes sesentayocheros mexicanos procedieron como los europeos y los estadounidenses en sus principales acciones: tomaron decisiones en asambleas, declararon paros y huelgas, marcharon por las calles, corearon consignas, portaron mantas, realizaron mítines en las plazas, ocuparon edificios, desbordaron los cauces de la política institucional, se opusieron a diversos aspectos del orden establecido, tuvieron una orientación progresista y de izquierda, cuestionaron a las autoridades, protestaron contra el gobierno, se enfrentaron con los policías y les arrojaron piedras. También coincidieron con los de otros países al denunciar la hipocresía de su tiempo. Esta denuncia, en el caso preciso de México, tendió a centrarse en el régimen autoritario y altamente represivo del Partido Revolucionario Institucional (PRI): un régimen que hipócritamente se presentaba como democrático, tolerante y respetuoso de la libertad de expresión.

Tras la imagen exterior de tolerancia, libertad y democracia, la sociedad mexicana sufría desde los años cuarenta del siglo XX una opresión despótica y una despiadada persecución de toda clase de opositores políticos. Este clima opresivo y persecutorio fue un factor determinante para que el 68 de México fuera tan diferente al de otros países y terminara con un baño de sangre, el de la matanza de Tlatelolco, el 2 de octubre de 1968. Semejante desenlace casi habría podido preverse al examinar la historia de México en el siglo XX. Detengámonos un momento en esta historia para ver algunas de las causas por las cuales el 68 mexicano fue tan particular. Su particularidad obedece en gran parte a la trama histórica en la que se inserta.

La historia que desemboca en el 68 mexicano

Desde los tiempos coloniales, México ha sido un país desgarrado por las desigualdades socioeconómicas. Estas desigualdades no se atenuaron con la Independencia del país a principios del siglo XIX. Por el contrario, tendieron a agudizarse, impidieron siempre una verdadera democratización y llegaron a ser insostenibles durante la dictadura de Porfirio Díaz, en el cambio del siglo XIX al XX, lo que favoreció que estallara la Revolución Mexicana de 1910. El movimiento revolucionario fue por democracia, por tierra y libertad, pero también, fundamentalmente, lo que suele olvidarse, fue por justicia e igualdad.

Tras la Revolución Mexicana, hubo que esperar hasta el régimen de Lázaro Cárdenas, entre 1934 y 1940, para que se materializaran parcialmente los ideales revolucionarios a través de medidas nacionalistas e igualitaristas como la expropiación de latifundios, el reparto de 18 millones de hectáreas a comunidades campesinas, la nacionalización de los ferrocarriles y de la industria petrolera, el fortalecimiento de los sindicatos, un ambicioso plan de alfabetización y de educación pública, la difusión popular de la cultura y la insubordinación ante la injerencia de los Estados Unidos y de países europeos. Estas medidas causaron un gran malestar entre los sectores privilegiados y conservadores de la sociedad mexicana, los cuales, tras el final de la presidencia de Cárdenas, se esforzaron en revertir la transformación revolucionaria del país.

Tanto la presión de las clases dominantes como los intereses propios de los gobernantes hicieron que las conquistas de Cárdenas empezaran a ser atenuadas, recortadas o sencillamente anuladas en las décadas siguientes. A partir de los años cuarenta del siglo XX, la historia de México es la de un incesante desmantelamiento del cardenismo y de su herencia revolucionaria. Esto nos ha llevado actualmente a una situación muy semejante a la que existía durante la dictadura de Porfirio Díaz, con un incremento vertiginoso de la desigualdad, la cada vez mayor explotación y marginación de los más pobres, el abandono de la educación, la cada vez mayor concentración de la riqueza y de la tierra en las manos de los privilegiados, la privatización de lo que había sido nacionalizado, el saqueo imparable de los recursos nacionales por empresas extranjeras, la erosión de la soberanía y la creciente injerencia de los Estados Unidos y de otros países en los asuntos internos.

La tendencia de progresiva derechización, de reflujo anti-cardenista y de retorno al pasado prerrevolucionario desencadenó desde el principio, desde los años cuarenta del siglo XX, una ola de movilizaciones colectivas para defender la herencia revolucionaria del cardenismo. Estas movilizaciones provocaron a su vez la reacción violenta del régimen del PRI, el cual, desde entonces hasta ahora, ha mostrado ese lado autoritario y altamente represivo que se manifestó en las agresiones contra el movimiento estudiantil del 68 y especialmente en la masacre del 2 de octubre en Tlatelolco.

La matanza de Tlatelolco no fue la primera. Los años anteriores a 1968 ya estuvieron pautados por una serie de masacres perpetradas por motivos políticos y ejecutadas por militares y policías en contra de civiles y opositores al régimen: en 1942, en el centro de la Ciudad de México, asesinato de seis estudiantes del Instituto Politécnico Nacional; en 1952, también en la Ciudad de México, 200 opositores henriquistas, seguidores del candidato presidencial Miguel Henríquez, masacrados en la Alameda; en 1958, en el zócalo de la misma ciudad, varias víctimas del movimiento magisterial; entre 1960 y 1962, en Guerrero, 50 asesinados en la represión de la Asociación Cívica Guerrerense; en 1963 y 1966, en Morelia, 3 estudiantes universitarios acribillados; en 1967, en Guerrero, 5 muertos entre maestros y padres de familia en Atoyac, y entre 40 y 80 muertos y desaparecidos en la represión contra los copreros de Acapulco. Estas matanzas no impidieron que hubiera, durante la misma época, grandes movimientos de protesta en los que se defendía la herencia de la revolución y del cardenismo: en 1952, el movimiento henriquista por la restauración del proyecto cardenista; en 1958, el Movimiento Revolucionario del Magisterio liderado por Othón Salazar, así como la huelga ferrocarrilera dirigida por Valentín Campa y Demetrio Vallejo; en 1964, los paros y manifestaciones de médicos; entre 1963 y 1967, las movilizaciones estudiantiles en Puebla, en Sonora, en Tabasco y especialmente en la Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo en Morelia.

De la Marcha de la Libertad a los encuentros de la Central Nacional de Estudiantes Democráticos

Así como la represión gubernamental fue incapaz de frenar las grandes movilizaciones sociales de 1952 a 1968, así también fue incapaz de impedir que se diera el gran movimiento estudiantil del 68. Este movimiento no dejó de abrirse paso a través y a pesar de la represión, como lo veremos ahora, en un breve recorrido en el que tan sólo esbozaré algunos trazos generales de lo que ha sido ya registrado, relatado y analizado minuciosa y exhaustivamente por autores como Edmundo Jardón Arzate[1], Elena Poniatowska[2], Sergio Zermeño[3], Paco Ignacio Taibo II[4], Daniel Cazés[5], Sergio Aguayo[6], Jorge Volpi[7], Julio Scherer y Carlos Monsiváis[8]. Quizás lo único distintivo de mi relato sea todo aquello sobre lo que Citlali Martínez Cervantes atrajo mi atención: lo que ocurrió fuera de la Ciudad de México, especialmente entre enero y julio de 1968, lo cual, significativamente, suele olvidarse o subestimarse.

El año de 1968 empieza con la organización y realización de una gran Marcha de la Libertad organizada por la Central Nacional de Estudiantes Democráticos (CNED). Los marchistas pretenden recorrer 200 kilómetros, de la población de Dolores Hidalgo a la ciudad de Morelia, para demandar la excarcelación de presos políticos, entre ellos Rafael Aguilar Talamantes, Efrén Capiz y Sebastián Dimas Quiroz, líderes del movimiento estudiantil de 1966 en la Universidad Michoacana. Después de avanzar 120 kilómetros, llegando a Valle de Santiago, la marcha será disuelta con violencia por los militares. Esto provocará una ola de protestas estudiantiles en la Ciudad de México, Morelia, Culiacán, Mazatlán, Monterrey, Villahermosa, Veracruz, Chihuahua y Puebla.

En febrero de 1968, en diversas partes de México, once mil estudiantes de 29 escuelas normales rurales se declaran en huelga. En los meses siguientes se multiplican las detenciones de activistas estudiantiles y de miembros del Partido Comunista Mexicano y de otras organizaciones. Al mismo tiempo hay numerosas manifestaciones por la liberación de los presos políticos. Uno de los presos más carismáticos, el famoso líder ferrocarrilero Demetrio Vallejo, realiza una huelga de hambre en prisión. Varios dirigentes estudiantiles de la UNAM se solidarizan con él y se declaran también en huelga de hambre.

Entre el 16 y el 17 de marzo se realiza la Conferencia Nacional de Solidaridad con el Pueblo de Vietnam. Luego, entre marzo y mayo, decenas de miles de personas, incluyendo muchos estudiantes, manifiestan su apoyo solidario a los vietnamitas y su repudio a la intervención estadounidense en varias ciudades del país. Hay manifestaciones sucesivamente en Guadalajara (25 de marzo), Chilpancingo, Torreón y Los Mochis (21 de abril), Ciudad de México y Culiacán (25 de abril), Zacatecas (27 de abril), Fresnillo (27 y 29 de abril), Mexicali (24 de mayo) y Morelia (26 y 28 de julio).

En mayo en la Ciudad de México y en julio en Morelia tienen lugar dos encuentros de la Central Nacional de Estudiantes Democráticos (CNED) a los que asisten representantes de todo el país y en los que se resuelve seguir luchando por la paz en Vietnam, por la democratización de la educación y por la liberación de los presos políticos estudiantiles. En la Constitución General de esta Central de Estudiantes, aprobada el 10 de mayo, no sólo se marca el objetivo de emanciparse del “imperialismo yanqui”, sino que se plantea “una activa lucha política, ideológica y práctica contra la planeación restriccionista y tecnicista de la educación y contra la orientación pragmática, cientificista y desarrollista, bases del actual sistema educativo”[9].

El 11 de julio, en una manifestación estudiantil en Puebla, un estudiante fue asesinado por un grupo universitario estrechamente vinculado con el gobierno. Este asesinato provocó protestas y agravó un largo y violento conflicto entre sectores gubernamentales y anti-gubernamentales en la Universidad Autónoma de Puebla. El mismo asesinato fue también motivo para una declaración pública de condena por parte de la Central Nacional de Estudiantes Democráticos en Morelia.

El epicentro del movimiento en la Ciudad de México

Desde finales del mes de julio, el movimiento del 68 tendrá su epicentro en la Ciudad de México. Es aquí en donde el 22 de julio, una semana después del mencionado encuentro estudiantil en Morelia, se da el desencadenamiento de una serie de sucesos que desembocarán desafortunadamente en la masacre de Tlatelolco. Se trata simplemente de unos enfrentamientos callejeros entre alumnos de escuelas de educación media superior, pero el cuerpo de granaderos de la policía interviene, detiene a varios estudiantes y allana una escuela vocacional del Instituto Politécnico Nacional. Esto hace que el 26 de julio, para protestar contra las acciones policiacas, haya una manifestación de estudiantes del Instituto Politécnico Nacional (IPN), la cual, a su vez, también es atacada por los granaderos. A causa del ataque, los manifestantes retroceden y terminan reuniéndose con otra manifestación que se realiza al mismo tiempo y que ha sido convocada por la Juventud Comunista, la Central Nacional de Estudiantes Democráticos y sociedades de alumnos de del Instituto Politécnico Nacional y de la Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) para festejar la Revolución Cubana y conmemorar el asalto al Cuartel Moncada. Los participantes de ambas manifestaciones marchan juntos y son duramente reprimidos por los granaderos. Hay más de quinientos heridos y decenas de detenidos. En los días siguientes, policías y militares entrarán en varias escuelas, ocuparán el Comité Central del Partido Comunista, detendrán a varios miembros del partido y también a integrantes de la Central Nacional de Estudiantes Democráticos.

El 31 de julio, protestando contra las acciones policiacas y militares, se declara una huelga en todas las facultades, institutos y escuelas de la UNAM y del IPN. Al día siguiente, el primero de agosto, hay una manifestación de 80 mil universitarios encabezados por el rector Javier Barros, quien demanda respeto a la autonomía universitaria y libertad a los estudiantes presos. El 2 de agosto se constituye un Consejo Nacional de Huelga (CNH) en el que se concentra el liderazgo del movimiento.

Durante los meses de agosto y septiembre se multiplican las manifestaciones multitudinarias en la Ciudad de México. El movimiento ya no sólo tiene un carácter estudiantil. Hay también toda clase de trabajadores: electricistas, ferrocarrileros, telefonistas, maestros de primaria y obreros de la fábrica de llantas Euzkadi. Se protesta contra las reacciones represivas del régimen, contra su carácter opresivo y antidemocrático, pero también contra el capitalismo y el imperialismo estadounidense. A partir del 20 de agosto, después de la intervención en Checoslovaquia, también se protesta contra el Pacto de Varsovia y contra el seguidismo pro-soviético. El mismo Comité Central del Partido Comunista Mexicano condena la intervención. A diferencia de otros comunistas en el mundo, los mexicanos tienden a mostrar una gran proximidad, afinidad y sensibilidad ante el movimiento del 68, el cual, por su parte, suele simpatizar con los comunistas y exterioriza posiciones anticapitalistas y antiimperialistas. En las manifestaciones aparecen retratos del Che Guevara y Ho Chi Minh junto con los del líder ferrocarrilero Demetrio Vallejo. También abundan significativamente los retratos de Pancho Villa y Emiliano Zapata, los revolucionarios consecuentes por excelencia, los que no claudicaron y tampoco se dejaron corromper y pervertir como los del régimen.

Las manifestaciones más numerosas fueron las del 5 de agosto, con 100 mil manifestantes; la del 13 de agosto, con 150 mil; y la del 27 de agosto, con 300 mil. En esta última manifestación, que se prolongó hasta el día siguiente, los estudiantes izaron la bandera rojinegra en el zócalo de la Ciudad de México, recibieron la solidaridad de empleados gubernamentales y fueron duramente reprimidos por policías y militares, así como por sujetos que por primera vez dispararon sobre los manifestantes desde los edificios aledaños. Es así como se responde una y otra vez con represión a las manifestaciones contra la represión. Pero las movilizaciones continúan. Se realizan mítines en Texcoco, Tlalnepantla y otras zonas industriales para aproximarse a los obreros y buscar su apoyo. El 13 de septiembre hay una gran marcha silenciosa en la Ciudad de México. Muchos manifiestan con mordazas o con tela adhesiva en la boca. Se hace el signo de la “V” con los dedos. Hay pancartas y carteles en las que se lee: “el silencio es repudio a la represión”, “líder honesto igual a preso político”, “libertad a la verdad: ¡diálogo!”[10].

Al mismo tiempo, en todo el país, surgen muestras de solidaridad con los estudiantes de la capital. Entre el 8 y el 9 de agosto estallan huelgas en la Escuela Nacional de Maestros, la Escuela Normal Superior, el Tecnológico de Ciudad Madero, el Centro de Capacitación de Uruapan y las universidades de Puebla, Oaxaca, Morelos, Yucatán, Sinaloa, Sonora, Tabasco, Campeche, Baja California, Chihuahua, Veracruz y Guerrero. La más importante institución educativa jesuita en México, la Universidad Iberoamericana, entra en huelga el 13 de agosto. Hay manifestaciones estudiantiles en todo el país: el 30 de julio en Puebla, el primero de agosto en Monterrey, el 5, 10 y 16 de agosto en Torreón, el 13 de agosto en Xalapa, el 25 y el 31 de agosto en Morelia, el 26 y 27 de agosto en Oaxaca, el mismo 27 de agosto en Culiacán y Monterrey, el 4 de septiembre en Puebla, el 9 de septiembre otra vez en Culiacán, y el 28 de septiembre en Orizaba y Xalapa, en donde se da una respuesta violenta de policías y militares.

Reacción y represión

Las reacciones violentas de Orizaba y Xalapa no fueron hechos aislados. Recordemos que el 27 de agosto los militares habían atacado a los manifestantes en la Ciudad de México. En septiembre los militares también cercaron centros educativos en Oaxaca y Chilpancingo. Además ocuparon una preparatoria de Cuernavaca en la que sesionaba el Consejo de Huelga de la Universidad Autónoma de Morelos. Hubo paralelamente un despliegue militar importante en torno a los edificios de la Universidad Autónoma de Puebla.

En un hecho aislado, el 14 de septiembre, cinco trabajadores de la Universidad Autónoma de Puebla fueron linchados en el pequeño pueblo de San Miguel Canoa. Los habitantes del lugar asesinaron con palos y machetes a tres de ellos y al dueño de la casa en la que se hospedaban. El principal instigador parece haber sido un sacerdote que acusó a los universitarios de ser comunistas y de querer izar una bandera rojinegra en la iglesia.

La campaña anticomunista rodeó constantemente al movimiento del 68. Desde un principio, lo mismo en la capital que en la provincia, los sesentayocheros fueron asimilados a los comunistas por los funcionarios del gobierno, los dirigentes patronales y la mayor parte de los periodistas de la prensa impresa, de la radio y la televisión. Muchos imaginaron una maniobra comunista-soviética para desestabilizar el país, derrocar al gobierno e impedir las Olimpiadas que se realizarían en México entre el 12 y el 27 de octubre de ese mismo año de 1968.

La animadversión contra el movimiento del 68 fue predominante en las altas esferas del gobierno y en los sectores más conservadores y derechistas de la sociedad mexicana. Los estudiantes sufrieron la violencia de movimientos de extrema derecha, pandillas juveniles pro-gubernamentales y agrupaciones militares y paramilitares cuyos integrantes usaban armas de fuego y vestían como civiles. Esta clase de grupos difícilmente identificables atacaron constantemente al movimiento del 68 y mostraron su poder al realizar una serie de agresiones coordinadas sobre escuelas preparatorias y sobre el Colegio de México los días 31 de agosto y 7 de septiembre. Fue así como prepararon el terreno para las acciones finales de los militares.

El 18 de septiembre el Ejército Mexicano ocupó la Ciudad Universitaria y detuvo a más de 500 profesores y estudiantes. Cuatro días después, el 23 de septiembre, los militares ocuparon los principales centros educativos del Instituto Politécnico Nacional. Finalmente, el 2 de octubre, un mitin de 15 mil personas en la Plaza de las tres Culturas de Tlatelolco fue atacado por militares y paramilitares del Batallón Olimpia, quienes asesinaron a más de 200 personas, tal vez 300, quizás más de 300. Hubo también más de 3000 detenidos que se agregaron a los anteriores. Muchos de ellos fueron torturados. Algunos desaparecieron para siempre. Hoy sabemos que estos crímenes fueron decididos, maquinados, autorizados, ordenados y dirigidos por los más altos funcionarios del gobierno mexicano de la época, entre ellos el Presidente, Gustavo Díaz Ordaz, el Secretario de la Defensa Nacional, Marcelino García Barragán, y el Secretario de Gobernación y futuro mandatario Luis Echeverría Álvarez.

La brutalidad gubernamental consiguió el propósito de sofocar temporalmente el movimiento. Como leemos en un hermoso relato de Arturo Taracena, “finalmente, con el reflujo que produjo la matanza de Tlatelolco y la captura de los principales dirigentes del movimiento estudiantil, el espíritu del 68 quedó un momento en suspenso, opacado por la fastuosa inauguración de las Olimpiadas”[11]. Sin embargo, entre los meses de octubre y diciembre, continuó una represión que tampoco debemos olvidar. El 16 de noviembre fue encarcelado el escritor y pensador marxista José Revueltas. Hubo más detenciones, más asesinatos de estudiantes, así como expulsiones de extranjeros vinculados con el movimiento. El primero de diciembre de 1968, en una reunión de la CNED en la que faltaron varios asesinados y encarcelados, se realizó un diagnóstico elocuente que sigue siendo vigente hasta ahora: “Es vital para las fuerzas gobernantes conservar sus métodos represivos y antidemocráticos tradicionales pues no son capaces de mantenerse en el poder en un juego libre de fuerzas políticas”[12].

¡2 de octubre no se olvida!

Los sesentayocheros mexicanos consiguieron desenmascarar los métodos represivos y antidemocráticos tradicionales del régimen priista. Y no lo hicieron en cualquier momento, sino en 1968, cuando los ojos del mundo veían hacia México, en donde iban a realizarse los juegos olímpicos. Estas circunstancias fueron decisivas para llegar al sangriento desenlace del 68 en México. La matanza ocurrió el 2 de octubre: sólo diez días antes de que empezaran las olimpiadas. Ante la llegada inminente de una avalancha de turistas y periodistas, el gobierno mexicano recurrió a su método habitual, a la represión, para solucionar con rapidez y eficacia el problema de la movilización estudiantil.

El propósito principal de la movilización estudiantil, como ya lo señalé antes, era desenmascarar al gobierno priista mexicano, quitarle su hipócrita máscara democrática y mostrar su verdadera cara, su rostro autoritario, violento y represivo. Curiosamente fue el mismo gobierno el que se traicionó y se exhibió tal como era, en la matanza de Tlatelolco, precisamente para no ser denunciado y expuesto por los estudiantes. En efecto, para que el movimiento estudiantil no lo desenmascarara, el gobierno se apresuró a desenmascararse a sí mismo.

El más conocido suceso del movimiento anti-represivo del 68 mexicano fue paradójicamente la sangrienta represión gubernamental. Es por esta represión por la que solemos recordar el 68 cada año, en México, el 2 de octubre. En ese día, año tras año, desde hace ya medio siglo, decenas de miles de estudiantes salen a las calles de la Ciudad de México y de otras ciudades mexicanas para homenajear a sus compañeros caídos en 1968. Es una manera de recordarlos y de mantener vivo el recuerdo. Es una expresión de lo que Maurice Halbwachs denominaba “memoria colectiva” para designar “la memoria en la que participamos como integrantes de un grupo”[13] y en la que nos acordamos colectivamente de “un acontecimiento que forma parte de la existencia del grupo y que percibimos desde el punto de vista del mismo grupo”[14]. Aquí el grupo es el del estudiantado mexicano que recuerda, resiente y se representa lo sucedido en 1968 como parte de su existencia. Es en cierto modo el mismo grupo que se movilizó en 1968 y que fue atacado en Tlatelolco. Es el grupo que sigue movilizándose cada vez que llega el 2 de octubre para conmemorar el aniversario de la masacre. Su memoria colectiva se torna explícita en la consigna coreada una y otra vez por los estudiantes: “¡2 de octubre no se olvida! ¡2 de octubre no se olvida! ¡2 de octubre no se olvida!”.

Que el 2 de octubre no se olvide se confirma en los mismos estudiantes que llenan las calles para corear “¡2 de octubre no se olvida!”. Su consigna dice lo mismo que ellos despliegan masivamente con su presencia. Ellos, al manifestarse cada 2 de octubre, ponen en evidencia que el 2 de octubre no se olvida, que se recuerda colectivamente, manifestándose, marchando, haciendo mítines, levantando puños, coreando consignas, pintando mantas y muros. Estas acciones exteriorizan una memoria colectiva que difiere de la simple historia pasada, como bien lo señala Halbwachs, porque “sólo retiene del pasado lo que está aún vivo y es capaz de vivir en la conciencia del grupo que lo sostiene”[15].

Los estudiantes de México sostienen y mantienen vivo el 2 de octubre. Lo distinguen de un simple dato histórico muerto al hacerlo vivir en lo que sienten y piensan, pero también en lo que dicen y en lo que hacen. Todo esto es la conciencia del estudiantado. Todo esto es también su memoria colectiva. Es tan exterior como interior. No sólo está en la significación de los gestos, sino en los gestos mismos, entre ellos el de corear que el 2 de octubre no se olvida.

La enunciación misma, el hecho de corear la consigna, corrobora lo enunciado, que “el 2 de octubre no se olvida”. Enunciar esto cada año, al igual que manifestarse por esto cada año, es una forma de no olvidar el 2 de octubre, de no olvidarlo aunque pasen los años, 1969, 1970, 1971, los demás años setenta, ochenta y noventa del siglo XX, los dos mil y los dos mil diez y tantos. Los años pasan y los estudiantes siguen saliendo a la calle, puntualmente, cada 2 de octubre, demostrándonos una y otra vez, cada año, que el 2 de octubre no se olvida, que su recuerdo insiste y resiste, que la memoria colectiva persiste y consigue atravesar las generaciones. Tenemos, pues, una perseverancia transgeneracional del 68 mexicano. Esta perseverancia es una forma simbólica de subsistencia del estudiantado que se movilizó en 1968 y que fue atacado en Tlatelolco, pues la subsistencia del grupo, como lo sugiere Halbwachs, es correlativa de la permanencia de su memoria, una memoria que no es ni más ni menos que “el grupo visto por dentro”, una memoria cuyos “límites” coinciden con los del mismo grupo[16].

Los estudiantes del 68 se mantienen simbólicamente vivos a través de quienes los recuerdan en las movilizaciones conmemorativas del 2 de octubre. La memoria colectiva es un triunfo contra Díaz Ordaz, contra los miembros del Batallón Olimpia y contra los demás verdugos de Tlatelolco. Aunque los asesinos hayan matado a jóvenes llenos de vida, no habrán acabado con una parte importante de su vida: la del espíritu del 68. Tal espíritu seguirá vivo mientras haya nuevos cuerpos en los que pueda encarnarse. Y para encarnarlo, para prolongar su vida, basta recordar y actuar en consecuencia.

Lo que se olvida cuando el 2 de octubre no se olvida

Es verdad que muchos estudiantes, aunque salgan a marchar el 2 de octubre, no tienen una idea muy clara de lo que sucedió ese día. También es verdad que la mayoría de los manifestantes de cada 2 de octubre ignoran casi todo sobre el movimiento del 68 en México. Hay una gran amnesia en la memoria colectiva. El 2 de octubre no se olvida para olvidar todo lo demás.

No podemos negarlo: hay mucho que se olvida cuando el 2 de octubre no se olvida. Tampoco podemos evitar las más diversas sospechas con respecto a este olvido. La memoria colectiva es sospechosamente selectiva. ¿Por qué retiene lo que retiene y descarta lo que descarta? ¿Cuál es su criterio de selección? ¿Cómo no vamos a sospechar de ella? Algunas de nuestras sospechas, por cierto, no tienen mucha importancia y hasta pueden ser divertidas.

Por ejemplo, cuando pensamos en la amnesia generalizada con respecto al origen del movimiento del 68, la Marcha de la libertad y todo lo demás que sucedió fuera de la capital mexicana y a lo que hicimos referencia al principio, ¿cómo no vislumbrar aquí un perfecto ejemplo de lo que llamaré humorísticamente “chilangocentrismo” para designar la creencia prejuiciosa de que la Ciudad de México es el centro del país, que todo gira en torno a él, que él precede y gobierna todo lo que ocurre en las provincia, que las ciudades provincianas siguen el ritmo de la capital y que nada verdaderamente originario y decisivo sucede fuera de la Ciudad de México? Este prejuicio encuentra una interesante refutación en el movimiento del 68, el cual, aunque terminara teniendo su epicentro en la Ciudad de México, se originó claramente fuera de la ciudad y hundió sus raíces en movimientos estudiantiles como los de Sonora y especialmente Morelia. Sin embargo, ante la importancia de lo que ocurrió en 1968, parece mezquino detenerse en estas pequeñeces. ¿Qué importa olvidar lo que sucedía en la provincia cuando se asesinó a centenares de manifestantes en la capital?

Olvidar lo esperanzador y recordar lo desesperanzador

La evocación exclusiva del 2 de octubre contiene pequeños olvidos que podemos olvidar sin consecuencias, pero hay también otros olvidos, grandes olvidos, que tal vez no debamos olvidar y que nos inspiran las más graves sospechas. Hay dos a los que deseo referirme. Ya mencioné el primero: al recordar una y otra vez el 2 de octubre y sólo el 2 de octubre, olvidamos todos los demás días, todos los demás sucesos, todo el 1968, todo lo que sucedió ese año. El movimiento del 68 desaparece detrás de la matanza de Tlatelolco. El 2 de octubre se torna sinónimo de 1968, sustituyéndose al año entero, condensándolo en un solo día, como si el 2 de octubre hubiera sido el único día en el año, como si no hubiera 364 días más, como si la represión fuera lo único sucedido en el movimiento del 68.

Paco Ignacio Taibo lo expresa de manera brillante: “el 68, por la magia negra del culto a la derrota y a los muertos, se vuelve Tlatelolco”, de tal modo que el 2 de octubre “se queda solo” y “sustituye en la memoria los 100 días de la huelga”[17]. Hay aquí, efectivamente, un preocupante derrotismo necrófilo: nos olvidamos del maravilloso movimiento social y no de la espantosa represión gubernamental. Recordamos la matanza que nos asusta y nos desalienta, pero olvidamos lo que se mata, lo que nos inspira y nos alienta. Perdemos lo esperanzador, el movimiento del 68, y nos quedamos con lo desesperanzador, con el 2 de octubre, con la violencia del gobierno. Mantenemos vivo el terror y no la ilusión del 68. Olvidamos lo que no deberíamos olvidar y no olvidamos lo que tal vez, en definitiva, sería mejor olvidar.

El recuerdo insistente de la matanza de Tlatelolco podría estar cumpliendo una función crucial en el régimen priista represivo y antidemocrático: dar un golpe traumático tal que anulara cualquier confianza en la movilización y que hundiera a las personas en el desánimo, en el temor, en el terror ante la violencia gubernamental. El “¡2 de octubre no se olvida!” significa igualmente: no se olvida que el régimen priista reprime cuando se protesta, que mata a quienes protestan, que las protestas acaban en baños de sangre, que no tienen finales felices, que por eso es mejor no protestar, como nos lo enseña el 2 de octubre, y es quizás también por eso que no hay que olvidarlo.

En los años 1990, cuando era joven y participaba en las marchas del 2 de octubre, me acuerdo que mi querida madre, para disuadirme de marchar, me decía que era peligroso, que no me expusiera, que no olvidara el 2 de octubre. Me decía, pues, exactamente lo mismo que yo iba a gritar a las calles: que el 2 de octubre no se olvida. Lo que me hacía ir a la calle a manifestar mi rabia contra el gobierno asesino es lo mismo que hacía que ella pensara que era una mala idea ir a la calle a manifestar esa rabia. Su miedo era provocado por lo mismo que encendía mi rabia: por lo resumido en la consigna “¡2 de octubre no se olvida!”. La memoria colectiva podía justificar tanto la rabia como el miedo, tanto el ánimo como el desánimo, tanto la pasividad como la actividad. Los efectos eran contrarios, pero la memoria colectiva era la misma. Recordar el 2 de octubre no sólo hacía que yo y mis compañeros fuéramos a las calles a protestar contra el régimen, sino que también hacía que muchos otros, quizás muchos más que nosotros, no fueran a las calles a manifestar su inconformidad.

Hay, pues, buenas razones para sospechar que la reducción del movimiento del 68 al 2 de octubre tiene efectos desesperanzadores, disuasivos, desmovilizadores. Es lo mismo que ocurre con la reducción de los sesentayocheros a quienes claudicaron y renegaron de sus convicciones, quienes terminaron encarnando todo lo contrario del espíritu del 68, quienes traicionaron al movimiento, delataron a sus compañeros y se vendieron al régimen a cambio de becas o puestos gubernamentales. Desde luego que hay casos como los del renegado Gilberto Guevara Niebla, el delator Sócrates Campos Lemus y el incongruente Marcelino Perelló Valls, pero son proporcionalmente minoritarios. Además, como bien lo ha mostrado Luis González de Alba, son casos bastante discutibles y ninguno corresponde al perfil de alguien “objetivamente traidor”[18]. Sin embargo, al pensarse que son casos objetivos de traición y que son mayoritarios o típicos o incluso universales, uno se queda con la impresión de que el espíritu del 68 era una simple forma de inmadurez, una rebeldía típicamente adolescente, algo que debería superarse al madurar. Es así como terminamos reduciendo simplistamente el movimiento del 68 al capricho de unos cuantos personajes miserables, despreciables, jóvenes malcriados y adultos inconsecuentes. Este simplismo reduccionista puede servir para lo mismo que sirve el que reduce 1968 al 2 de octubre: decepcionar, desmoralizar, desinflar a quienes tengan la tentación de continuar lo empezado en 1968.

Olvidar el presente

El espectro del 68 es conjurado con las invocaciones de la matanza y de la traición. Al pensar en Tlatelolco y en Campos Lemus, ¿quién tendría el ánimo de retomar la estafeta del movimiento? De lo que se trata es que el movimiento del 68 quede confinado al año de 1968. Lo que se busca es que haya terminado. Esto nos conduce al segundo reduccionismo al que deseo referirme en relación con la consigna de “¡2 de octubre no se olvida!”: el que no sólo equipara el año de 1968 al día miércoles 2 de octubre, sino que reduce el medio siglo que ha transcurrido ya desde 1968 al solo año de 1968, el cual, seguidamente, se reduce a un solo día. Voy a explicarme.

Contra lo que se nos quiere hacer creer, el movimiento del 68 no fue atajado con la matanza de Tlatelolco. No fue derrotado por las bazucas y ametralladoras de los militares. Tampoco es algo que pueda relegarse al año de 1968, algo que haya empezado y terminado en ese año, algo que responda solamente a la coyuntura y al ambiente planetario de 1968. El 68 mexicano más bien exterioriza un movimiento que viene desde 1940 y que todavía dura en 2018: un movimiento por libertad y por democracia, por igualdad y por justicia, por la herencia revolucionaria y cardenista, y contra el régimen priista contrarrevolucionario, corrupto e injusto, represivo y antidemocrático. Este movimiento que no ha terminado es también el movimiento del 68, el cual, por lo tanto, no es un movimiento del pasado, sino del presente. Recordarlo es continuarlo. Mantener vivo su recuerdo nos exige mantener vivo el movimiento.

La memoria colectiva mantiene vivo aquello que recuerda y no sólo su recuerdo. No se trata sólo de que el movimiento del 68 no se olvide, sino de que no termine, que siga adelante, lo cual, por lo demás, es también lo que ocurre cuando los estudiantes salen a las calles a corear “¡2 de octubre no se olvida!”. Los estudiantes no olvidan el 2 de octubre de 1968 porque siguen luchando por lo mismo que se luchaba el 2 de octubre de 1968. Y siguen luchando por lo mismo porque no lo han conseguido, porque todo sigue igual que en 1968, porque el movimiento no ha logrado revolucionar el país, no lo ha hecho todavía, pero quizás lo haga en el futuro. Esto es también lo que frecuentemente se olvida cuando el 2 de octubre no se olvida. Lo que se olvida es que no hay nada que pueda simplemente olvidarse, dejarse atrás, como si fuera sólo pasado, como si ya hubiera ocurrido, como si no siguiera ocurriendo.

El 2 de octubre de 1968 se repite el 10 de junio de 1971 en la Ciudad de México, el 22 de diciembre de 1997 en Acteal y el 26 de septiembre de 2014 en Iguala. El gobierno represivo no deja de matar a los opositores. La represión continúa. La opresión y el autoritarismo también. El déficit democrático sigue vigente en México. La injusticia y la desigualdad son sufridas cotidianamente por la mayoría de los mexicanos.

El capitalismo sigue devastando al mundo y ahora pone en peligro la subsistencia del género humano. El imperialismo estadounidense no deja de bombardear a pueblos inocentes, empobrecer a los países subdesarrollados y ser un obstáculo para la democratización en América Latina. La Guerra de Vietnam se desplazó a Centroamérica y luego a Medio Oriente, a Irak, Siria y Palestina.

Las causas del movimiento del 68 son tan vigentes ahora como en 1968. Y es por todo esto que no se deja de luchar, y que el movimiento del 68 prosigue después de 1968, tal como había empezado antes. Es una lucha continua contra la represión, contra la opresión, contra la explotación, contra la destrucción, contra la muerte. Sólo hay aquí dos posibilidades: o luchamos y quizás triunfemos, o claudicamos y de seguro perdemos. Como ya lo escribía José Revueltas en 1968, estamos ante un “único dilema insoslayable y rotundo: victoria o muerte”, pues mientras “la victoria, para nuestro país, será un México libre, democrático, sano, donde se pueda respirar, pensar, crear, estudiar, amar”, la derrota será la muerte, “la noche del alma, las torturas sin fin, el candado en los labios, la miseria del cuerpo y del espíritu”[19]. Es para evitar esta miseria que se lucha en el 68, pero también antes, después, aún hoy y seguramente mañana.

Historia de lucha

Ya vimos cómo el 68 mexicano se inserta en una historia de lucha que viene desde los años cuarenta del siglo XX. José Revueltas conjeturó que esta historia, tras la represión de la huelga ferrocarrilera en 1958, encontró la manera de “vengarse” al “caminar por debajo de los acontecimientos” hasta emerger en el movimiento estudiantil del 68, el cual, por lo tanto, no estaba “aislado históricamente”[20]. Como bien lo ha observado Pablo Gómez, coincidiendo con la conjetura de Revueltas, el 68 formaba parte de un entramado histórico en el que diferentes protestas y otras acciones colectivas, lejos de estar “aisladas las unas de las otras”, se entretejían en un único “proceso” de lucha en el que 1968 apareció como un “punto culminante”[21]. Este año hizo únicamente que el proceso ya existente adquiriera cierta intensidad, amplitud y coloración, y que siguiese adelante así como venía desde atrás. El proceso, pues, no debe confinarse a 1968. Desde luego que ese año es decisivo, pero no para inaugurar ni mucho menos para consumar, completar y terminar la historia de lucha, sino simplemente para continuarla y conducirla por nuevos cauces.

El punto culminante fue también un punto de inflexión. Todo cambió al atravesar el espíritu del 68 con su marcado factor juvenil, su cuestionamiento de la hipocresía generalizada y sus demás elementos característicos. Por ejemplo, como lo han mostrado Soledad Loaeza, Ilán Semo y otros, la acción democratizadora del movimiento y su impacto social e institucional fueron factores decisivos que han condicionado y determinado la interminable transición a la democracia en México[22]. En cuanto a la represión gubernamental y específicamente la matanza de Tlatelolco, al delatar la cerrazón del gobierno mexicano ante cualquier estrategia legal y pacífica, pudo haber favorecido la proliferación de las guerrillas en los años setenta. Lo seguro es que el 68 vino a transformar el país.

Todo cambió con el 68, sin duda, pero para seguir adelante. En México, desde 1968 hasta ahora, los movimientos sociales no han cejado en su esfuerzo por defender y preservar la herencia revolucionaria. Han sido millones los mexicanos que luchan infatigablemente por lo mismo que en 1968: por libertad y democracia, pero también por igualdad y justicia. Así como recordamos el 68, así también guardamos en la memoria las más importantes movilizaciones nacionales de los años posteriores: las de apoyo al hijo de Lázaro Cárdenas, Cuauhtémoc Cárdenas, cuando fue candidato presidencial en el fraude electoral de 1988; la ola de solidaridad con el Ejército Zapatista de Liberación Nacional (EZLN) desde que se levantó en armas, en 1994, hasta ahora; la Asamblea Popular de los Pueblos de Oaxaca (APPO) en 2006 y el movimiento liderado por Andrés Manuel López Obrador en los últimos años.

El recuerdo insistente de las grandes luchas no debe hacernos olvidar los innumerables movimientos sociales que han agitado incesantemente a la sociedad mexicana en los últimos cincuenta años, incluyendo varias movilizaciones estudiantiles en diversas instituciones de todo el país: la Universidad Autónoma de Nuevo León en 1971, la Universidad Autónoma de Sinaloa en 1972, la UNAM en 1986 y 1999, los Colegios de Ciencias y Humanidades en 1995, la Universidad Autónoma Metropolitana en 1996, y así sucesivamente. Al mismo tiempo, cada nuevo 2 de octubre, los estudiantes han salido a la calle a corear “¡Dos de octubre no se olvida!”. En los últimos años hubo además dos grandes movimientos que unieron a estudiantes de todo México y en los que se recordó insistentemente la matanza de Tlatelolco: en 2012, el movimiento #yosoy132, por la democracia, por la libertad de expresión y contra el retorno del régimen priista; y en 2014, el movimiento causado por la desaparición de 43 estudiantes de la escuela Normal Rural de Ayotzinapa, los cuales, significativamente, fueron atacados por los policías cuando reunían fondos para ir a la Ciudad de México y participar en la manifestación conmemorativa del 2 de octubre.

Medio siglo de represión

Así como la movilización continuó durante los últimos cincuenta años, así también la represión prosiguió, dejando miles de víctimas en todo el país, entre ellas algunas asesinadas en grupo en las matanzas del régimen que vinieron después de Tlatelolco, por ejemplo: en 1971, en la Ciudad de México, medio centenar de estudiantes asesinados en la matanza de Corpus Christi; en 1982, en La Trinidad, Guerrero, 9 campesinos asesinados; en 1995, en Aguas Blancas, Guerrero, 17 campesinos asesinados; en 1997, en Acteal, Chiapas, 45 indígenas asesinados; en 1998, en El Charco, Guerrero, 11 jóvenes asesinados; en 2014, en Iguala, Guerrero, 8 asesinados y 43 estudiantes desaparecidos; en 2016, en Nochixtlán, 10 asesinados; en 2017, en Arantepacua, 4 indígenas asesinados. Todas estas personas molestaban al régimen y fueron eliminadas por policías, militares y paramilitares. Su eliminación basta para confirmar que México no es una democracia, ni siquiera una democracia imperfecta, sino simplemente una dictadura, aunque eso sí, una “dictadura perfecta”, como la llamara Mario Vargas Llosa cuando todavía era capaz de sostener un discurso crítico y consecuente[23].

Como ya lo comentamos anteriormente, la represión gubernamental de los movimientos pacíficos, tanto en 1968 como antes y después, hizo que muchos opositores optaran por tomar las armas y unirse a la guerrilla. Desde los años sesenta hubo grupos guerrilleros importantes en México, entre ellos los de Lucio Cabañas y Genaro Vázquez entre los sesenta y principios de los setenta, el Movimiento de Acción Revolucionaria y la Liga Comunista 23 de septiembre en los setenta, el Partido Revolucionario Obrero Campesino – Unión del Pueblo (PROCUP) en los ochenta, el EZLN y el Ejército Popular Revolucionario en los noventa. Ante la irrupción de la guerrilla, la represión tendió a recrudecerse. Miles de personas fueron detenidas, torturadas y asesinadas en la persecución contra los guerrilleros. Fue en el contexto de esta persecución que sucedieron muchas de las matanzas que mencionamos anteriormente, como las de Acteal y El Charco.

De cualquier modo, en todas las matanzas mencionadas y en los miles de asesinatos políticos perpetrados por el régimen priista después de 1968, las víctimas fueron mayoritariamente opositores al régimen eliminados por militares, paramilitares, policías y pistoleros trabajando para el régimen. Es verdad que los muertos luchaban por causas diferentes, pero siempre, en última instancia, luchaban también por lo mismo que los jóvenes que murieron en Tlatelolco el 2 de octubre de 1968: por libertad y democracia, por justicia e igualdad. Podemos decir, pues, que se trata de una lucha que no ha cesado en México desde los cuarenta del siglo XX. Esta lucha, que ya dura casi ochenta años, es la que se exteriorizó en el movimiento del 68, el cual, por lo tanto, no debe confinarse al año de 1968, no debe abstraerse de la gran lucha en la que el 68 es tan sólo un eslabón, sí, un eslabón decisivo y diferente de cualquier otro, pero un eslabón que sólo tiene sentido por el pasado y el futuro que se unen en él. Y el futuro de 1968, no hay que olvidarlo, es nuestro presente, es decir, el presente de aquellos, como yo, que aún creemos en lo mismo que los estudiantes del 68: la libertad, la democracia, la igualdad, la justicia, la soberanía de los pueblos.

¿Final feliz?

Si creemos en lo mismo que los sesentayocheros, entonces tan sólo podremos realizarlo al ser continuadores de ellos y al proseguir lo que ellos empezaron. Debemos ver su lucha como una tarea pendiente. Hay que seguir luchando contra la represión y la opresión, contra la injusticia y la desigualdad, contra la explotación capitalista y contra el imperialismo de los Estados Unidos y de otras potencias mundiales.

Todavía sufrimos lo mismo que los jóvenes del 68. Aún sentimos y pensamos lo mismo que ellos, deseamos lo mismo, somos lo mismo. Es verdad que somos también muchas otras cosas que ellos todavía no eran. Y desde luego que ellos eran también muchas otras cosas que nosotros ya no somos. Pero hay algo que ya eran ellos y que persiste a través de lo que somos. Es por esto que los encontramos dentro de nuestra memoria colectiva. Están aquí porque son lo que somos.

Como nos lo han mostrado Henri Tajfel y John Turner, hay una identidad compartida en la base y en el seno de la memoria colectiva[24]. No podemos recordar juntos, a través de nuestra vida, sino lo que somos unos con otros. Nuestro nosotros es también el de los del 68. Ellos también forman parte de lo que somos. Hay algo que sólo podemos ser con ellos. Dejarlos atrás no sería otra cosa que dejarnos atrás a nosotros mismos.

Para no perdernos, debemos continuar protestando como los sesentayocheros, denunciando lo que ellos denunciaban, exponiéndonos a las balas que los mataron. Tenemos que seguir hablando sobre ellos para no dejar de hablar sobre nosotros. Y no debemos dejar de corear las consignas con las que nos recordamos al recordarlos estruendosamente cada nuevo 2 de octubre. De lo contrario, como decía el astrónomo Guillermo Haro al recordar el 68, caeremos en “ese magnífico y egoísta silencio con el que nos protegemos y nos olvidamos”[25].

Para guardarnos en la memoria, debemos dejarnos poseer por lo que Jorge Volpi llamaba el “espíritu de Tlatelolco”[26]. Tenemos que ser aquello en lo que no se apaga el espíritu del 68: el espíritu de lucha de los sesentayocheros. No sólo hay que mantener vivo su recuerdo, sino que hay que mantenerlos vivos a ellos, a los que aparentemente murieron en Tlatelolco. Tan sólo así podremos vencer a quienes creyeron matarlos. Y de paso venceremos a otros asesinos de la vida y de la esperanza, entre ellos quienes asesinaron y desaparecieron a los estudiantes de Ayotzinapa mientras se preparaban para homenajear a los de Tlatelolco.

Tal vez al final, con el apoyo de los de Ayotzinapa y de todos los demás, consigamos que el 68 mexicano tenga un final feliz, un final diferente al 2 de octubre. Hay que insistir en que el 2 de octubre no fue el final del movimiento. El final está por verse. Y seguramente falta mucho para verlo, pues los sesentayocheros, como bien lo apuntó José Revueltas, están “haciendo la historia”, son “su carne y su sangre”, y es precisamente por esto que tan sólo podrán “vencer hasta el fin”[27].

Referencias

[1] Edmundo Jardón Arzate, De la Ciudadela a Tlatelolco: el islote intocado, Ciudad de México, Fondo de Cultura Popular, 1969.

[2] Elena Poniatowska, La noche de Tlatelolco, Ciudad de México, Era, 1971.

[3] Sergio Zermeño, México : una democracia utópica: el movimiento estudiantil del 68, Ciudad de México, Siglo XXI, 1978.

[4] Paco Ignacio Taibo II, 1968 (1991), Madrid, Traficantes de Sueños, 2006.

[5] Daniel Cazés, Crónica 1968, Ciudad de México, Plaza y Valdés, 1993.

[6] Sergio Aguayo Quezada, 1968: los archivos de la violencia, Ciudad de México, Grijalbo, 1998.

[7] Jorge Volpi, La imaginación y el poder, una historia intelectual de 1968 (1998), Ciudad de México, Era, 2006.

[8] Julio Scherer y Carlos Monsiváis, Parte de guerra, Tlatelolco 1968, Ciudad de México, Aguilar, 1999.

[9] En Gerardo Peláez Ramos, El movimiento estudiantil y los comunistas (1963-1968), Cronología IV y última, La Haine, consultado en http://www.lahaine.org/b2-img10/pelaez_6368_4.pdf

[10] En Daniel Cazés, Crónica 1968op. cit., p. 166.

[11] Arturo Taracena Arriola, Las lecciones del 68. Bajo el Volcán 7(13) (2008), p. 77.

[12] En Gerardo Peláez Ramos, El movimiento estudiantil y los comunistas (1963-1968), Cronología IV y última, op. cit.

[13] Maurice Halbwachs, La psychologie collective (1937-1942), París, Flammarion, 2015, p. 174.

[14] Maurice Halbwachs, La mémoire collective (1926-1944), París, Albin Michel, 1997, pp. 65-66.

[15] Ibíd., pp. 131-132.

[16] Ibíd., pp. 131, 140.

[17] Paco Ignacio Taibo II, 1968, op. cit., p. 101.

[18] Luis González de Alba, En el Consejo Nacional de Huelga no hubo traidores, Proceso, 11/10/16, consultado en https://www.proceso.com.mx/458278/gonzalez-alba-68-en-consejo-nacional-huelga-hubo-traidores

[19] José Revueltas, México 68: juventud y revolución, Ciudad de México, Era, 2008, p. 91.

[20] Renata Sevilla, Tlatelolco, ocho años después (entrevistas), Ciudad de México, Posada, 1976, pp. 13-14.

[21] Elena Poniatowska, La noche de Tlatelolcoop. cit., p. 18.

[22] Soledad Loaeza, México 1968: los orígenes de la transición, Foro internacional 30(1) (1989), pp. 66-92. Ver también algunos capítulos contenidos en: Ilán Semo, La transición interrumpida: México 1968-1988, Ciudad de México, Universidad Iberoamericana, 1993.

[23] Mario Vargas Llosa, México es la dictadura perfecta. Españoles y latinoamericanos intervienen en la polémica sobre el compromiso y la libertad, El País, 1 de septiembre de 1990, https://elpais.com/diario/1990/09/01/cultura/652140001_850215.html

[24] Henri Tajfel y John Turner, The Social Identity Theory of Intergroup Behavior, en S. Worchel & W.G. Austin (eds), The Psychology of Intergroup Relations (pp. 7-24), Chicago, Nelson-Hall, 1986.

[25] Elena Poniatowska, La noche de Tlatelolcoop. cit., p. 145.

[26] Jorge Volpi, La imaginación y el poder, una historia intelectual de 1968op. cit., pp. 359-375.

[27] José Revueltas, México 68: juventud y revoluciónop. cit., 2008, p. 25.

Tras la matanza de Tlatelolco: la perseverancia de los verdugos y de sus víctimas

Charla en el Auditorio Aníbal Ponce de la Facultad de Psicología de la Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo (UMSNH), en Morelia, Michoacán, México, el lunes 2 de octubre de 2017

David Pavón-Cuéllar

Recuerdo y demora

El dos de octubre no se olvida. ¿Cómo habría de olvidarse cuando todo nos lo recuerda? Todo sabe aún a 1968 en el México en el que ahora vivimos. Aquí, en este país que tanto se ha transformado, todo tiene algo de aquellos tiempos en los que Tlatelolco se tiñó de rojo.

Lo que ocurrió hace medio siglo se vislumbra en todo lo que sucede hoy en día. Todo nos hace pensar en esa época. Desde luego que no se trata de lo mismo, pero sí de reflejos, variaciones, consecuencias y ramificaciones de lo mismo.

Todo se relaciona de algún modo con aquello que produjo la masacre de la Plaza de las Tres Culturas. El México de 1968 no ha quedado atrás, a nuestras espaldas, confinado en el pasado. No se han cortado los hilos invisibles que tan estrechamente nos unen a él. Su momento continúa siendo nuestro momento. La herida no deja de ser la nuestra. Sigue abierta. No se ha hecho nada para cerrarla, cicatrizarla, superarla y seguir adelante.

Seguimos atrás. Hay algo de nosotros que se ha demorado, que se ha quedado lesionado en la orilla del camino, que no ha llegado hasta el presente. Por más que hayamos avanzado, no hemos avanzado. Nos encontramos detrás de nosotros mismos.

Estamos aún atrapados en lo que acorraló a los mártires de Tlatelolco. El régimen autoritario contra el que se manifestaban era una versión anterior del mismo sistema opresivo y represivo contra el que seguimos protestando. Nosotros continuamos denunciando los mismos vicios que ellos denunciaban: la violencia y la injusticia, la falta de libertad y el déficit democrático, la corrupción y la demagogia, la censura y el control de la prensa.

Lo mismo que en 1968

Podemos hacerle al actual gobierno mexicano los mismos reproches que se le hacían al de 1968. Se trata, de hecho, del mismo gobierno, pero ahora más viejo, más degradado, aunque también más depravado, más taimado, con más colmillo, más experimentado, y, además, hay que reconocerlo, renovado, quirúrgicamente rejuvenecido y vestido a la moda tecnocrática neoliberal.

Desde luego que nuestros gobernantes no se parecen a Gustavo Díaz Ordaz. No suelen tener ya ni su fealdad ni su gesto adusto ni el tono duro de su voz. Los discursos también han cambiado. La mística revolucionaria se ha desvanecido. La retórica política del pueblo y la igualdad ha perdido terreno ante la jerga económica del mercado y la competitividad.

Sin embargo, ahora como en 1968, lo que domina en el discurso gubernamental es la vacuidad, la mentira, el ocultamiento, la discrepancia con respecto a los hechos y el objetivo fundamental de confundir, engañar y a veces intimidar. La estrategia intimidatoria no deja de servirse también de los policías y los militares, los cuales, tan desprestigiados como siempre, siguen caracterizándose por su lealtad hacia el gobierno y por su deslealtad hacia el pueblo. Y cuando no puede recurrirse a los uniformados, el gobierno actual, como los anteriores, cuenta con el apoyo de esbirros y matones asalariados. Las tareas ejecutadas por el Batallón Olimpia de Tlatelolco son las mismas que ahora se encomiendan a menudo al crimen organizado. El trabajo sucio no deja de hacerse rutinariamente. La represión continúa. La impunidad también.

Los empresarios, por su parte, llevan más de cincuenta años exigiendo, respaldando y aplaudiendo la violencia del gobierno contra la sociedad movilizada. El régimen sigue contando también con el apoyo y la simpatía del gobierno estadounidense. Ahora, como en 1968, es en Washington en donde se decide mucho de lo que aparentemente se decide aquí en México. La sumisión de Gustavo Díaz Ordaz ante Lyndon B. Johnson es comparable a la de todos y cada uno de los siguientes presidentes mexicanos ante sus homólogos estadounidenses.

Permítanme invocar las imágenes que guardamos en la memoria. La actitud acomplejada, nerviosa y pusilánime del pequeño Peña Nieto ante Obama y Trump es prácticamente igual a la que mostraba el pequeño Díaz Ordaz ante Johnson. Mientras que los relajados presidentes de Estados Unidos parecen tener una idea clara sobre sus propósitos y las direcciones hacia las que avanzan, los de México muestran una triste mezcla de rigidez, cordialidad servil y tensión de lacayos, y dan la impresión de concentrarse en sus homólogos, atenerse a ellos y actuar en función de su voluntad.

Las actitudes recién evocadas contrastan con los rostros valientes, libres y voluntariosos, dignos e indignados, que vemos lo mismo en las fotografías del movimiento del 68 que en las del movimiento por los 43 de Ayotzinapa. Quizás tengamos que tomar en serio estas imágenes y reconocer que aquí, en México, el reparto de la dignidad sigue siendo inverso a la distribución del poder. Tanto ahora como en 1968, los poderosos, los de arriba, son los más indignos, los más despreciables de nuestro país, mientras que los que no tienen poder alguno, los de abajo, suelen ser los más dignos, los más respetables.

El México de 1968, como el de ahora, es un país en el que la virtud y el mérito se castigan, mientras que la bajeza y la infamia permiten conquistar el poder y se recompensan con toda clase de riquezas y privilegios. Lo más bajo es curiosamente lo que se encuentra siempre más arriba, y cuando alguien consigue subir, sabemos que es generalmente porque baja, se rebaja, se degrada. Semejante configuración espacial, parcialmente responsable de la decadencia moral de las personas y las instituciones de México, se ve posibilitada, sostenida y apuntalada por todos los medios y especialmente por los medios entre los medios, los de comunicación masiva, cuyo espejo cóncavo hace que todo lo veamos al revés.

El espejo mediático

Las ilusiones ópticas de los medios prácticamente no han cambiado en los últimos cincuenta años. Tampoco hemos asistido a modificaciones sustanciales en las demás tácticas mediáticas utilizadas por Televisa y por los demás empresas oficialistas o gobiernistas. Las nubes de humo no se han disipado. Al mismo tiempo, el buen clima no deja de reconfortar. Los discursos de los funcionarios aún sirven como ruido para no escuchar las demandas populares. Lo que realmente ocurre en la sociedad no deja de ser disimulado por lo que se escenifica en el gobierno. Y, ya sea que se trate de la final de fútbol o de las Olimpiadas del 68, el deporte sigue operando como el distractor más efectivo.

La Televisa de hoy es como la de ayer. El Sol de México, el Excélsior, Novedades, La Prensa, El Nacional, El Universal y El Heraldo son también exactamente los mismos. Las noticias tras la noche de Tlatelolco son comparables a las que hubo tras la noche de Iguala y tras las demás noches de matanzas. Los soldados repelen siempre agresiones que vienen hoy de vándalos o de hombres armados como provenían ayer de francotiradores apostados en las azoteas de Tlatelolco. Recordemos los titulares del 3 de octubre de 1968. Ovaciones: “Decenas de Francotiradores se enfrentaron a las Tropas”. El Heraldo: “Francotiradores dispararon contra el Ejército: el General Toledo lesionado”. El Nacional: “El Ejército tuvo que repeler a los Francotiradores”. El Sol de México: “Francotiradores abrieron fuego contra la tropa en Tlatelolco, manos Extrañas se empeñan en desprestigiar a México, el objetivo es frustrar los XIX Juegos”.

Los agredidos son siempre los agresores. Lo justo se presenta como injusto y lo injusto se presenta como justo. En el mejor de los casos, lo más claro se oscurece y ya no discernimos ni a las víctimas ni a los responsables, ni tampoco las causas ni el contexto. Recordemos algunos titulares tras la matanza y desaparición de estudiantes en Iguala. El Heraldo: “Resurge la violencia, masacres en Chihuahua y Guerrero”. El Informador: “Ataques dejan al menos ocho muertos en Iguala”. Unión de Guanajuato: “Comando Armado ataca camión de equipo de futbol”. Milenio: “Enfrentamientos entre policías y normalistas dejan 6 muertos”. A Tiempo: “Deja 9 muertos violencia entre normalistas y policías en Guerrero”. El ataque unilateral de la policía es descrito como una batalla entre policías y normalistas. Las víctimas dejan de ser identificadas como normalistas. La violencia policiaca se difumina y se disipa en la violencia generalizada en el país.

La represión gubernamental desaparece tras la mistificación mediática. En los casos mencionados como en los demás, la prensa, los periódicos y los noticieros continúan obedeciendo una lógica de manipulación, distracción, desinformación, justificación del régimen y descalificación de las protestas y de las movilizaciones sociales. Y así como el gobierno mantiene su control de los medios, así también sigue cooptando a fuerzas opositoras como las sindicales y partidistas. Los sindicalistas charros y los partidos paleros no dejan de operar y adquieren incluso formas tan ambiciosas y elaboradas como la del Pacto por México.

Más que un partido

El PRI no ha perdido su capacidad para corromper y absorber a sus enemigos. Al igual que el Partido Popular Socialista (PPS) y el Partido Auténtico de la Revolución Mexicana (PARM) en 1968, ahora el PAN y el PRD se han dejado cooptar hasta el punto de convertirse en partidos priistas, simples avatares del PRI, como ya lo eran el Verde Ecologista y Nueva Alianza, y como quizás, muy pronto, lo sea también MORENA. Todas las diferencias terminan disolviéndose en ese caldo pútrido y corrosivo que ha ido carcomiendo la política mexicana. Me refiero, desde luego, a la hegemonía priista.

¿Qué es el PRI? No es tan sólo un partido. No es tampoco únicamente una constelación de partidos que se han dejado convertir al priismo. El PRI es más: es una forma de hacer política y de ser gobierno. Es un método para ejercer y acaparar el poder, para negociarlo y gestionarlo, para vencer a los contrincantes, para controlar a los medios, para cooptar o reprimir a fuerzas opositoras, para comprar votos y vender prebendas, para enriquecerse al desempeñar funciones públicas, para corromper el gobierno y la política. Es también, desde luego, desde un principio, una manera de preservar el espíritu de la revolución al institucionalizarlo. Sin embargo, como lo muestra la historia moderna de México, la institucionalidad revolucionaria no es verdaderamente revolucionaria. O si se prefiere: la revolución institucional es algo muy diferente a la revolución propiamente dicha.

Lo revolucionario es un impulso, un movimiento, y, por lo tanto, al institucionalizarse, al estabilizarse, al inmovilizarse, no se conserva, sino que, por el contrario, tiende a perderse, neutralizarse, anularse. De ahí que la Revolución Mexicana se haya visto literalmente anulada por la burocracia del PRI. El priismo acabó con la Revolución Mexicana tal como el estalinismo neutralizó la Revolución de octubre y tal como Napoleón se deshizo de la Revolución Francesa. En todos los casos, tenemos tiranías que tan sólo pueden asegurar la consumación y la victoria de las revoluciones al detenerlas y derrotarlas, al convertirlas en tiranías bonapartistas, estalinistas, priistas.

El PRI es la detención y la derrota de la gesta revolucionaria de 1910. La Revolución es lentamente desactivada y sofocada por el contragolpe de su institucionalización. Podemos decir, pues, que el priismo es también un dispositivo reaccionario para destruir lo revolucionario. El PRI ha sido esto en Tlatelolco. Lo ha sido también, ya desde sus orígenes carrancistas y obregonistas, cuando todavía no se llamaba PRI, en la Hacienda de Chinameca y en la ciudad de Parral, en donde fueron asesinados, respectivamente, Emiliano Zapata y Francisco Villa. ¿Quiénes los asesinaron? Los pioneros de la institucionalización, los precursores del PRI.

La máquina de matar

El priismo se prefigura con los asesinatos de Villa y Zapata. La matanza de Tlatelolco es ya una forma consumada, madura, de ser priista. El PRI es también una máquina de matar. Lo fue ya en 1952 cuando masacró a unos 200 henriquistas en la Alameda Central de la Ciudad de México. Lo ha sido también al asesinar a más de cincuenta miembros de la Asociación Cívica Guerrerense entre 1960 y 1962, a unos 80 copreros en Acapulco en 1967, a unos cincuenta estudiantes en el Halconazo de 1971, a 9 personas en La Trinidad en 1982, a 17 campesinos en Aguas Blancas en 1995, a 45 en Acteal en 1997 y a 11 en El Charco en 1998, por mencionar los casos mejor conocidos.

Las múltiples matanzas perpetradas por los gobiernos priistas ponen de manifiesto que el priismo es también algo asesino. Lo es, y aun si aparentemente no lo siguiera siendo, lo sería porque lo ha sido. Los pasados crímenes del priismo comprometen por siempre lo que es en el presente y será en el futuro. Aunque haya prescripción jurídica, el asesino será siempre un asesino. Lo asesino sigue siendo lo que es: lo sigue siendo por haberlo sido.

Me atrevo incluso a sostener que no se puede ser priista sin tener algo de asesino, sí, algo, al menos aquello que viene simbólicamente implicado en la identidad nominal del priista, es decir, aquello que la define, que la caracteriza históricamente y que debe asumirse al adoptar la personalidad moral del priismo. Esta personalidad comporta su culpabilidad, su responsabilidad en una historia de crímenes horrendos, entre ellos el de la Plaza de las Tres Culturas. Habiendo sido perpetrada por un gobierno priista, la matanza de Tlatelolco es un crimen priista del que son culpables de algún modo, en su condición de priistas, quienes continúan llamándose así, o al menos quienes todavía no han sido capaces de repudiar abiertamente lo asesino que hay en su afiliación partidista.

Por así decir, cuando una persona física decide adoptar sin restricciones la personalidad moral del priismo, como es el caso de la inmensa mayoría de los priistas, entonces debe hacerse cargo también de aquello de lo que el priismo ha sido culpable. Su culpabilidad será desde luego como persona moral y no como persona física, pero no por ello será menor. El priista no será menos culpable por serlo tan sólo en tanto que integrante del PRI o exponente del priismo. Tendrá que rendir cuentas, quizás no en un juicio legal, pero sí ante su propia conciencia y en el juicio de la historia. Deberá explicar, por ejemplo, cómo fue que se atrevió a ser el priista que es aun al conocer los crímenes del PRI. Estando al tanto de los innumerables asesinatos cometidos por los priistas, ¿por qué decidió ser uno de ellos: uno de los asesinos? ¿Por qué se le ocurrió ser uno de aquellos que desearon y decidieron matar a los estudiantes en la Plaza de las Tres Culturas?

Supervivencia de los asesinados

Los asesinos de Tlatelolco permanecen aún entre nosotros, están vivos y hasta suelen tener suerte en la vida, ganan elecciones, ocupan altos puestos del gobierno y muestran una singular facilidad para enriquecerse. Al mismo tiempo, generalmente por debajo de ellos, los mártires de Tlatelolco, las víctimas del priismo, también continúan viviendo entre nosotros. Los hacemos vivir cada vez que los recordamos y salimos a la calle para corear que el 2 de octubre no se olvida.

Así como los asesinos de Tlatelolco subsisten de modo simbólico a través de los priistas, así también sus víctimas, los asesinados, pueden sobrevivir simbólicamente a través de quienes pensamos en ellos y llevamos adelante su lucha contra eso de lo que el priismo es el nombre. Nuestros muertos viven a través de nosotros: a través de nuestras vidas, nuestras marchas, pancartas y discursos, pero también a través de nuestro miedo, nuestro agotamiento, nuestra frustración y nuestra indignación. Gracias a lo que sentimos, pensamos, decimos y hacemos por ellos, ellos están vivos, vivos con el aliento que les damos, vivos de nuestra vida, vivos como nosotros, vivos al ser nosotros, vivos al sentirse, pensarse, decirse y hacerse dentro de aquello mismo que nosotros sentimos, pensamos, decimos y hacemos por ellos.

Los mártires de Tlatelolco sobreviven a las balas al sobrevivir al olvido. Mientras que nosotros los recordemos, el gobierno y sus militares no habrán podido matarlos por completo. Desde luego que seguirán asesinándolos, como lo hicieron una vez más en Iguala en 2014, pero nosotros podremos revivirlos, y así, de una vez, reviviremos a las siguientes víctimas.

Los de Ayotzinapa, movilizados por los de Tlatelolco, requieren ahora de nuestra movilización por unos y otros. Nosotros los necesitamos también a unos y a otros, los necesitamos para ser lo que somos, pues también somos nuestros muertos, y si nos los quitaran, si no pudiéramos hacerlos vivir a través de lo que somos, nos mutilarían y nos harían ser mucho menos de lo que somos.